A primazia do poder político

mario_abrantesSomos todos professores, pais e alunos!

Os professores são pais dos alunos. Cá está uma coisa que o ministro Crato e os crápulas dos seus colegas de governo (dada a massa de que são feitos) não conseguem, nem nunca conseguiriam entender. Só gente sem alma se serve do poder para colocar os filhos contra os pais. Foi isto que tentaram fazer e, desta vez, com a greve dos professores falharam rotundamente. Lembrei-me logo da conversa de um amigo meu que encontrei no passado fim-de-semana: “Cada vez que abro a televisão, o jornal ou a rádio, é para saber que acabámos de levar mais uma facada, mas não tarda aí outro 25 de Abril…”

O ministro, que afinal já tinha uma data alternativa engatilhada (2 de Julho), brincou com os números, mas acontece que 80.000 professores, também pais e também alunos, saíram à rua. Acontece que além de 90% de professores que aderiram à greve (uma adesão nunca antes vista), dos 75 mil alunos inscritos, 15 mil são do ensino privado, pelo que os 23 mil que não realizaram o exame foram praticamente 40%! E tudo isto caldeado com falcatruas ilegítimas diversas (vigilantes não professores, professores da própria disciplina a vigiar exames, exames realizados fora das salas de aula, etc., etc.) que poderão pôr até em causa as provas que já se realizaram.

É o povo a meter-se na política…porque quando dela se afasta, permite a um governo, que mistura a incompetência com o desprezo que tem por ele, retirar a saúde de perto dos doentes e dos idosos indefesos, retirar-lhes os medicamentos, e cortar nela mais 150 milhões, para além do montante já assustador que fora assinado com a troika por três partidos da nossa cena política.

E cada vez mais, substituindo o discurso de “os políticos não prestam, são todos iguais e por isso não voto, e por isso não quero saber da política para nada”, o povo é chamado a meter-se na política para derrubar um governo que de forma mesquinha se vinga nos trabalhadores do Estado de uma decisão do Tribunal Constitucional que lhe mandou pagar os subsídios a que aqueles têm direito, fabricando uma trapalhada imensa com vista a perturbar ao máximo o cumprimento dessa obrigação.

A Política (o P grande é propositado) está a precisar que a gente séria, amante do seu país, da sua região e do seu povo, a quem pertence, em lugar de dela se afastar, como tem acontecido cada vez com maior intensidade, antes dela se aproxime com coragem, e assuma a responsabilidade cívica de, perdoem-me a expressão, se meter no meio da porcaria e da incompetência (que por laxismo deixou acumular no seu seio) para as varrer dos poderes instalados, e para lhe devolver a sua dignidade, utilidade e eficácia social.

A Greve Geral do próximo dia 27 será uma excelente oportunidade para essa gente, com ou sem partido, com maior ou menor convicção ideológica, ser chamada a participar, porque de alguma forma contribuirá para este desiderato. E quanto mais forte for essa participação maior será a passada no sentido de o atingir.

Quanto mais se prolonga e aprofunda a chamada “crise”, mais urgente se torna mudar de rumo e restaurar a primazia do poder político sobre o poder económico, em especial quando a economia por sua vez está sobretudo virada não para a produção, o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida das pessoas, mas antes para os interesses do capital financeiro supranacional.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 20 de junho de 2013