Quis o Dr. Carlos Faria, deputado municipal do PSD e comentador
político frequente, vir a público há algumas semanas com a sua análise
sobre o funcionamento do actual poder municipal neste primeiro ano de
mandato.
Tem, obviamente, toda a legitimidade para o fazer, como qualquer um dos cidadãos desta Terra tem a legitimidade de concordar ou discordar.
É porém certo que para fazer um juízo de valor tem que haver conhecimento de causa o que nem sempre sucede com todo o rigor.
O Dr. Carlos Faria, no seu escrito, começa por fazer várias referências positivas ao actual elenco camarário, para na parte final, tirar uma conclusão não objectiva, não fundamentada e não verdadeira segundo a qual “(…) o primeiro ano da Coligação teve como principal consequência … apenas o silenciamento ou acomodação daquela que foi uma das vozes e força política mais reivindicativa do Faial, a CDU …”(cit.).
Trata-se de uma “conclusão” errada e que surge mais como linha de ataque político de um assumido adversário de que de uma conclusão séria de um trabalho sério de análise.
Para se fazer uma séria análise ao trabalho desenvolvido em 2006 pelo poder municipal tem que se ter como referência o que a Câmara se propôs fazer nesse ano, os meios que dispunha e os meios que utilizou.
Não se pose fazer uma referência ao Aterro Sanitário como sendo “um projecto a aguardar melhores dias” quando o que era possível fazer em 2006 –conclusão do projecto e envio para licenciamento- foi efectivamente feito.
Não se pode falar, em termos críticos, da ausência de outros projectos quando se sabe que sem a definição do novo quadro comunitário de apoio eles não podem ser efectivados.
Não é rigoroso, nem correcto, nem justo assacar à Câmara a responsabilidade pelo arranjo indispensável e urgente que se tem que fazer na frente marítima, quando se sabe que essa intervenção tem que estar ligada (mal seria se não estivesse) às obras de reordenamento e crescimento do Porto da Horta.
Outros comentários poderia fazer a várias avaliações feitas pelo Sr. Dr. Carlos Faria mas não é essa para mim a questão principal.
A questão principal prende-se com a forma aparentemente desprendida e ocasional com que o analista e deputado municipal do PSD fala no “… silenciamento ou acomodação daquela que foi uma das vozes e força política mais reivindicativa do Faial a CDU…”( cit.).
Lê-se aquele artigo de “análise” e percebe-se que várias passagens estão redigidas só e apenas para darem sustento a essa “conclusão”.
Mas é bom que se saiba que, da parte da CDU/Faial, não há silenciamento, nem da parte dos vereadores, deputados municipais e eleitos nas Freguesias pela CDU há acomodação.
Se porventura alguns eleitos da CDU aparecem menos nos Órgãos de Comunicação Social tal deve-se aos critérios dos OCS e não a qualquer decisão da CDU.
Mas lembro que neste mesmo espaço o vereador da CDU que assina este artigo tem tido a preocupação frequente de dar opinião e informação sobre as questões que estão sobre a sua responsabilidade directa e não se tem coibido de avaliar globalmente o evoluir da situação municipal.
Falar em acomodação é fazer, de forma injusta um juízo de valor negativo que mexe com a coerência e a honra das pessoas e instituições visadas. Há acomodação quando há abandono de objectivos. Há acomodação quando há troca de causas por compensações sejam de que natureza forem. Há acomodações quando se “viram casacas”.
No que toca aos vereadores, deputados municipais, membros de Juntas e de Assembleias de Freguesia eleitos, no Faial, pela CDU não há nem abandono de objectivos, nem troca de causas por compensações nem qualquer prática que se possa dizer ser de “vira casacas”.
Os eleitos da CDU, participando no poder municipal, estão a lutar intensivamente pelos mesmos objectivos locais pelos quais sempre lutaram.
Estão a ser profundamente coerentes com a luta que sempre fizeram às maiorias absolutas monopartidárias. Estão a deixar num plano secundário qualquer interesse partidarizado, na medida em que assumem de forma partilhada, responsabilidades, o que contribui para que muitas situações encontrem novos equilíbrios e novas dinâmicas.
Os eleitos da CDU são hoje, como ontem, profunda e consequentemente reivindicativos. Estão hoje, como ontem, profundamente ligados aos problemas sociais e à luta pela correcção das desigualdades.
Estão hoje, numa outra posição, a fazer o que sempre fizeram.
Não há que ter medo de assumir responsabilidades. Não há que ter medo do exercício pleno da democracia.
Ser lutador e democrata implica extrair do sistema político todas as possibilidades que ele cria. A realização de acordos pós- eleitorais é uma dessas possibilidades.
Foi isso que a CDU fez e foi nessa onda construtiva que o PSD do Faial não quis participar. Quem é que está, afinal, a hibernar?
José Decq Mota no Tribuna das Ilhas em 24 / 11 / 2006