Mais de 2000 milhões de euros foi a prenda que, ao longo de 2012, o sargento-ajudante da troika vestido de Pai Natal resolveu oferecer às empresas portuguesas (aquelas que não faliram ou que não estão a atravessar dificuldades financeiras graves, ou seja, as maiores está claro).
Uma prenda choruda que dá que pensar. Especialmente como foi possível, em tempo dito de crise, arranjar tanto dinheiro para oferecer aos destinatários indicados pelos seus chefes e, em simultâneo, fazer aumentar e enriquecer ainda mais os mais ricos de Portugal.
Simples. Um sargento-ajudante da troika pouco necessita de se preocupar com a vida, a saúde e os problemas dos seus subordinados. Pouco necessita de saber se a crise representa qualquer mal para eles. Estes só são importantes como objeto de execução (tão ou mais papista que a desejada pelo seu papa) das ordens que recebe. Os subordinados são indispensáveis mas simplesmente para serem usados. Interessa-lhe sim passar no exame da troika, sempre aprumadinho, à 10ª avaliação. E a troika ou os seus substitutos do BCE e da UE vão afagando o seu súbdito, dizendo-lhe, por entre descabidas e iníquas ameaças ao Tribunal Constitucional, que está no caminho certo, mas que, apesar disso, o país não vai conseguir livrar-se tão cedo deles e dos seus programas, para lá de junho do corrente ano...
E vai daí, depois dos 700 000 empregos destruídos nos últimos 4 anos, só durante o ano de 2012 (segundo estatísticas tornadas públicas recentemente) cerca de 750 milhões de euros foi o que os trabalhadores perderem de salários, correspondendo a uma média de 3% a menos de salário por cada trabalhador. Se juntarmos a isso o número de horas de trabalho a mais e não pagas pelos patrões, é fácil perceber como se chega a tanto dinheiro. Como se chega à quantia que deu para a prenda do Pai Natal.
Passos Coelho e o seu colaborador Portas têm razão. Esta sua política está a ser um êxito e a alcançar os seus objectivos (desde que o Tribunal Constitucional não se intrometa). Prolongar o empobrecimento da esmagadora maioria dos portugueses não é uma tragédia para o sargento-ajudante nem para os seus superiores, e portanto o facto de o empobrecimento se prolongar, ou o facto da dívida pública estar sempre a subir (já vai nos 130% do PIB) não são factos negativos, são factos "inevitáveis". O facto de um em cada quatro portugueses passar a subsistir no limiar da pobreza, o facto de se tornar a viver um tremendo surto de emigração, o facto de o desemprego ter atingido valores descomunais, constituem objetivos definidos previamente, portanto o seu cumprimento assegurado assim de forma tão rigorosa, só pode ser motivo de regozijo para os seus promotores.
Entretanto ouve-se o FMI dizer que afinal se enganou na política de austeridade. Como é?
Mas o nosso sargento-ajudante da troika não se desmancha nem perde o sangue frio pois não é nenhum novato nesta coisa das mentiras, como todos sabemos. Ele bem sabe distinguir entre o que é para dizer e o que é para fazer. O que são intervenções de ocasião, que a ele não dizem respeito, e o que são ordens para cumprir e fazer cumprir.
Portanto meus amigos vamos ver se fazemos o possível por tratar da saúde a esta gente e aproveitar o novo ano de 2014 para os colocar de convalescença em parte incerta, porque bem vistas as coisas estamos afinal a lidar com doentes que, onde quer que toquem (e tocam com propósito em tudo o que imaginam estar sob seu domínio), provoca "inevitavelmente" contágio destruidor e desumano...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 20 de dezembro de 2013