As eleições europeias e o interesse nacional

mario_abrantesA União Europeia, as suas políticas degenerativas e o seu actual directório político-financeiro parecem em estado acelerado de desacreditação e, o que é muitíssimo grave, proporcionando em alguns dos seus países membros o estender do tapete ao monstro neo-nazi...
Se é muito preocupante a ameaça do atual governo europeísta de Ângela Merkel de expulsar do território da Alemanha cerca de 5.500 imigrantes portugueses, é igualmente preocupante que, por exemplo, numa França aparentemente anestesiada do horror da ocupação hitleriana, o cabeça de lista antieuropeísta do partido mais votado nas eleições de domingo passado, o seu fundador Jean Marie Le Pen, tenha proposto em campanha a disseminação do vírus Ébola (um vírus hemorrágico mortal com origem em África) como forma de resolver o problema da imigração...
A uma tal deriva eleitoral xenófoba Portugal mostrou-se felizmente imune, pois a condenação dos partidos da troika (PSD, CDS e PS), que simbolizam o actual rumo das políticas comandadas pelo directório da UE, foi bem mais profunda e consequente tendo a soma dos votos nesses três partidos ficado pela primeira vez aquém dos 60%. Para além dos que, abandonando o voto nos partidos do poder, optaram pela abstenção em lugar de cair na tentação de escolhas eleitorais ainda mais à direita, a existência de candidaturas fortemente críticas e patrióticas (o caso da CDU, com um dos melhores resultados de sempre em eleições europeias), de outras que catalisaram o descontentamento ligado aos três partidos do "status quo" governativo (o caso Marinho Pinto, no Partido da Terra), e ainda as candidaturas do Bloco de Esquerda e das suas duas dissidências ("Livre" e "MAS"), lograram em conjunto igualar a votação dos dois partidos da direita no poder. Aritmeticamente através dos resultados obtidos poder-se-á dizer pela primeira vez que à esquerda, mesmo que o PS falte à chamada (como tanta vez tem faltado), a direita pode ser derrotada.
Com uma vitória escassa, vítima das ambiguidades entre a condenação das políticas da coligação PSD/CDS e a assinatura conjunta com esses mesmos dois partidos do memorando troikista e do Tratado Orçamental da UE, o PS viu-se de imediato a braços com uma crise interna de liderança, em tudo semelhante às velhas guerras de barões dentro do PSD...
Quanto a este último e ao seu parceiro de coligação, que tinham somado em 2011 mais de 50% dos votos, passados três anos afundaram-se literalmente para a sua pior votação de sempre em todas as eleições até hoje realizadas, não chegando a alcançar 1/3 dos votos expressos nas urnas.
Destes resultados e desta profunda derrota política, económica e social do governo troikista deverão ser tiradas as devidas ilações. O governo PSD/CDS perdeu toda a legitimidade política para continuar as políticas de desastre e afundamento nacional. Amanhã a Assembleia da República irá apreciar (mais) uma incontornável moção de censura a este governo, perfeitamente representativa da vontade popular expressa nas urnas.
Ao sr. Presidente da República, por seu lado, competiria interpretar com isenção e rigor os resultados eleitorais de domingo transato, retirando, como fizeram os portugueses, a confiança política ao governo da coligação, dissolvendo a Assembleia da República e convocando eleições antecipadas.
As políticas deste governo não necessitam de mais nenhum prazo de validade alargado para aferir do seu carácter profundamente ofensivo do interesse nacional, concedido por quem jurou cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 28 de maio de 2014