A Única Saída Limpa para Portugal

mario_abrantesEnquanto Ricardo Salgado envolvido em trapaças financeiras amealha fortunas que lhe permitem de uma assentada comprar 1,5 milhões de ações do Banco Espírito Santo, falta em S. Jorge um helicóptero para salvar uma vida, por escassez de pilotos devido aos cortes orçamentais na Força Aérea.

Este é apenas um retrato cru, entre muitos outros possíveis, da saída limpa de Portugal do programa troikista...

Uma saída que, ao contrário dos objectivos propalados aquando da "entrada", deixou tanto a dívida pública como as injustiças e as desigualdades substancialmente agravadas e a que, sem intervalo, se seguiu de imediato nova "entrada" desta vez num acordo que, segundo o Banco de Portugal, representa mais 7 mil milhões de austeridade para os próximos cinco anos.

Este acordo, segundo a mesma fonte, visa o cumprimento dos objectivos do Pacto Orçamental, pacto este que foi assinado exatamente pelos mesmos que assinaram o programa troikista: o PS, o PSD e o CDS.

A manterem-se as mesmas políticas e o mesmo governo estaremos nos próximos anos, como caracterizou muito bem Jerónimo de Sousa, confrontados com a continuidade do "massacre" que está a ceifar a vida e a esperança da esmagadora maioria daqueles que vivem e trabalham em Portugal.

Disso são provas os 300 portugueses que diariamente estão a emigrar e que ajudam a diminuir as estatísticas do desemprego, ou os cerca de meio milhão de desempregados que não recebem ou deixaram de receber o subsídio de desemprego, ou os cortes sucessivos e mais recentes nos rendimentos sociais de inserção e noutros apoios sociais.

Disso são provas as novas regras laborais que estão a ser impostas sob a fachada de negociações, infelizmente consentidas por alguns que se dizem representantes dos trabalhadores, que cortam sucessivamente nos salários da função pública ou do sector privado, que atrasam o aumento do salário mínimo, que reduzem as indemnizações por despedimento sem justa causa, que visam liberalizar mais ainda os despedimentos, ou que dificultam a contratação colectiva e pretendem diminuir os respetivos prazos de caducidade.

Disso é prova a continuidade da guerrilha do governo de Passos e Portas, e dos partidos que o apoiam, com o Tribunal Constitucional, para tentar viabilizar as próximas investidas inconstitucionais visando o esvaziamento, cada vez menos extraordinário e mais permanente, das reformas e pensões, e as novas subidas de impostos, em particular do IVA.

E, enquanto a coligação governamental assim age, o PS, que não se cansa de justificar o seu distanciamento da esquerda pela afirmação de que, em alternativa a ela, exerce uma oposição "responsável", envolve-se "irresponsavelmente" numa luta de galos personalizada com duração indefinida, alargando o espaço de manobra do governo de que se afirma opositor e permitindo-lhe a muda da montada para prosseguir o "massacre".

Para ajudar neste peditório, resta Cavaco e Silva, segundo o seu ex-conselheiro general Garcia dos Santos, "um cobarde e uma nulidade completa", "o principal culpado pela situação a que chegou o país..."

A única saída limpa desta situação, aos olhos de cada vez maior número de portugueses, confunde-se assim, mau grado todos os obstáculos internos e externos que contra ela se levantam, com a "saída" deste governo e desta política.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 2 de julho de 2014