Artigo de opinião de José Decq Mota
É verdade, tenho vergonha do actual governo do meu País, constituído por gente que defende políticas ditas de “reajustamento”, que mais não são do que medidas de ajustamento directo a uma definitiva subjugação deste País e deste Povo aos interesses de economias hegemónicas associadas a um brutal aumento da exploração e à destruição das conquistas civilizacionais e democráticas alcançadas pelos Povos.
Tenho vergonha de um governo que combate activamente os esforços de outro governo europeu, muito recentemente eleito, para pôr fim à brutal austeridade que nos transforma, a nós, à Grécia, à Irlanda, ao Chipre e a outros, em novas colónias.
Tenho vergonha de um governo que, exactamente no momento em que se abriu um extenso debate sobre a necessidade de ser posto um fim à austeridade, que não “reajustou” coisa nenhuma e apenas nos meteu no fundo buraco onde estão os dominados, exibe a sua ministra das finanças como fervorosa apoiante do ministro das finanças da Alemanha, que é um dos principais ideólogos desta nova forma de domínio sem tropas invasoras que agora é praticado.
Tenho vergonha de um 1º ministro, de um vice-primeiro-ministro, de uma “resma” de ministros, que acham que este País não só não foi brutalmente humilhado pelos seus aliados e parceiros, como proclamam aos quatro ventos que “o programa de reajustamento” resultou!
É preciso não esquecer que houve quem, em devido tempo, alertou e demonstrou que uma moeda única europeia, com o contorno que à partida foi definido para o euro, teria estas consequências políticas, económicas e sociais. A União Europeia e a Zona Euro, com os objectivos e as políticas que estão a ser feitas, transformaram-se em instrumentos, não de união, não de cooperação, mas antes de domínio.
Tenho vergonha do governo do meu País ser e querer ser instrumento desse domínio e nada fazer para alterar esta situação, bem pelo contrário. Contra isso luto e lutarei!
Canto do Capelo, 21 de Fevereiro de 2015
José Decq Mota