Artigo de opinião de José Decq Mota
Num Arquipélago como este a questão dos transportes aéreos, das frequências, dos preços, das ligações directas com o exterior, são questões essenciais, sentidas por todos os habitantes de todas as ilhas.
Cedo foi reconhecido que os habitantes dos Açores tinham direito a dispor de um serviço público de transporte aéreo para o resto do território nacional, que, praticando preços minimamente acessíveis, evitasse que o custo da distância nos transformasse em portugueses irremediavelmente isolados.
Nos tempos mais recentes, os governos da Republica e da Região andaram a negociar os termos do novo contrato de serviço público para o transporte aéreo, baseado agora numa parcelar “liberalização”, com voos “low cost” para uma ou duas ilhas e num conceito de compensação, por reembolso, dos passageiros residentes e não, como foi até agora, numa compensação à companhia ou companhias que, por concurso, ficassem com as diversas linhas.
Tem que ser dito que toda essa negociação foi obscura, que houve muitos pontos, que ambas as partes conheciam bem, mas foram escondidos da opinião pública até ao limite. Está neste caso o anúncio da TAP, feito no final de Fevereiro, que deixava de ter interesse em voar para a Horta, Pico e Stª Maria. Seguiu-se o anúncio de que a SATA Internacional operaria essas gateways, sabendo-se, como se sabe, que não tem aviões suficientes. Depois foi dito que a SATA teria um acordo com a TAP, para usar, nestes voos e nos tempos próximos, aviões da ainda Empresa Nacional.
Tudo isto cheira muito mal e faz supor que a estratégia traçada, cá e lá, visa canalizar visitantes para uma ou duas ilhas, visa incentivar os açorianos de outras ilhas a dirigirem-se às maiores para usar voos baratos para o exterior e visa liquidar, num prazo maior ou menor, as gateways de Stª Maria, Pico e Horta.
Deixemo-nos de “panos quentes” e chamemos as coisas pelo seu nome: está em curso um retrocesso brutal no transporte aéreo e a responsabilidade é do Governo da Republica e do Governo Regional.
Horta, 15 de Março de 2015
José Decq Mota