Artigo de opinião de Paulo Santos
A financeirização da economia gerou crise, e também a desculpa para que o poder dominante aspirasse à redução dos salários, à apropriação dos recursos públicos, à configuração de uma sociedade de elites; em suma, à recuperação do “status quo” prévio à 2.ª guerra. É a base ideológica deste governo, que se está marimbando se é PS ou PSD/CDS a governar, desde que o essencial da política desenvolvida se mantenha.
Do outro lado, temos um “mar” de gente, composta por precários, famílias em dificuldades, que a cada dia vê tudo piorar. Querem que isto acabe e constituem a maioria. Observam o desprezo com que Passos e Costa encaram as questões sociais, agonizam perante a ausência de qualquer medida que trave a desvalorização do fator trabalho, e isso seria suficiente para que o seu voto não caísse nem num nem noutro.
Mas depois surgem as pseudo-conquistas estatísticas do governo, e simultaneamente os empates técnicos das sondagens. Os “opinionmakers” transformam a previsão divulgada em certeza, incutindo a ideia de que, perante esta factualidade, o voto terá por objeto o desempate entre PS e PSD/CDS. A subalternização do debate político e a identidade quase total de perspetivas entre aqueles dois fazem emergir o mediatismo, a imagem, a postura e demais irrelevâncias enquanto fatores determinantes na escolha dos eleitores.
Concentram-se assim os votos no “centrão”, gerando a maioria que, contra o seu próprio interesse, constitui a base social de apoio a esta política desgraçada. O esforço empregue nestes malabarismos, porém, é demonstrativo do desespero em esconder a eclosão de uma real luta de classes em Portugal, ilustrada pelo confronto entre os poucos que subscrevem esta política e ganham com ela, e os muitos que não querem nada disto e cada dia estão mais pobres.