O julgamento

MAbrantes2"Só ganham se as vítimas votarem neles!" Chegou-me esta expressão de várias fontes e parece-me adequada à situação pré-eleitoral em curso. Qualquer reformado ou pensionista (peste grisalha segundo um candidato do PSD), cortado na remuneração e sobretaxado, qualquer doente forçado a ir ao privado ou a ficar sem assistência, qualquer desempregado a quem diminuíram ou anteciparam a retirada do subsídio, qualquer trabalhador a quem cortaram o salário e os 13º e 14º meses, qualquer funcionário público, qualquer jovem no desemprego, com trabalho precário ou forçado a emigrar, qualquer cidadão a quem impuseram uma brutal subida do IRS e de outros impostos, quaisquer pais forçados à subnutrição dos filhos por perda de rendimentos, com raras exceções têm todos (e diria que são a maioria dos votantes) bem poucas razões para aceitar o apelo desesperado que lhes está a ser endereçado pela coligação PSD/CDS para continuar a ser governo por mais 4 anos.

Porque os portugueses não são obviamente masoquistas, numa campanha transparente e verdadeira esta coligação seria severamente castigada e rapidamente votada ao ostracismo por quem durante 4 anos sentiu na carne como se empurra para a pobreza mais de um quinto da população, como se delapida desalmadamente para entregar à banca o fruto do seu trabalho (o PIB), como se coloca aos seus ombros, dos seus filhos e netos, a pesada canga de uma dívida externa da qual em grande parte não são responsáveis, e como se entregam criminosamente a interesses privados externos os mais importantes e estratégicos setores e empresas nacionais.

Para fugirem a este julgamento e a uma irrevogável condenação só enchendo de areia os olhos das suas "vítimas", utilizando indevidamente os instrumentos do poder ou as sondagens pouco rigorosas e tendenciosas para tripudiar as regras do pluralismo democrático, transformar a comunicação social na voz do dono e tentar branquear o passado negro da sua governação. Em simultâneo, procurar e privilegiar, em termos de presença de campanha, um opositor que tentam transformar em único; que, por mais oposição que faça (como no caso do PS), condescenda com essas manobras de distorção e perversão democráticas, e que, tal como recomendou a intrometida voz de comando da Standard & Poor's, não contradiga no essencial a continuidade futura das mesmas políticas e compromissos que têm afundado o país, nomeadamente os impostos pelo diretório euro-alemão e pelo FMI.

Exemplo flagrante e ilegítimo de todo este manobrismo atentatório da liberdade de voto e ocultador das responsabilidades políticas da coligação governamental, mas também do PS, foi a emissão do 1º dia de campanha eleitoral oficial na televisão pública portuguesa. Autêntico lixo informativo. À meia hora de emissão dos tempos de antena seguiu-se mais meia hora de jornal de campanha com notícias quase exclusivamente dedicadas à coligação PSD/CDS e ao PS, comentadas por um indivíduo que até se reservou ao direito de ajuizar negativamente sobre programas de outros partidos concorrentes, e seguiu-se o telejornal onde o prolongamento do tempo de antena para a coligação PSD/CDS foi de mais cerca de 15 minutos e para o PS mais cerca de 10 minutos. E somos nós incluindo os que não votam nem num nem noutro que estão a pagar esta RTP vergonhosamente manipulada...

Mas nem com tanto branqueamento e com tantos apoios ilícitos internos e externos, nem com sondagens em catadupa a matraquearem os mesmos resultados, os quais poderão revelar-se completamente errados (como sucedeu na Grã-Bretanha e na Grécia), Passos e Portas se furtarão completamente ao julgamento que lhes está destinado em 4 de Outubro.

Não conseguirão nem apagar a memória nem cegar a vista de todas as suas "vítimas"...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 27 de setembro de 2015