Artigo de opinião de Paulo Santos
O Instituto Histórico da Ilha Terceira assinalou 40 anos do 25 de Novembro de 75. Para o efeito, carreou para o domínio público os testemunhos de 3 personalidades. O Dr. Álvaro Monjardino trouxe-nos uma análise que, não desprovida de considerações pessoais, se mostrou séria, enquadrada e historicamente distanciada. No mais, assistimos a um lamentável manancial de juízos de valor gratuitos, mais próprios do PREC propriamente dito do que de um tempo já distante, em que a apropriação do sentido e alcance dos eventos deve resultar do processo de distanciação do intérprete face aos factos.
Diabolizou-se o PCP. Neste aspeto, entre palestrantes, destacou-se pela negativa a sinistra figura do então embaixador na NATO, o qual produziu uma intervenção paupérrima, cheia de lugares comuns e preconceitos. Dominado pela febre Anti-comunista que visivelmente o acomete, referiu que, então e agora, quanto menos influência tiver o PCP, mais democrático será o país. Pois bem, falando de democracia e liberdade, recordemos os ataques às sedes do PCP, atentados à bomba a militantes seus e outras “democraticidades” da direita mais reacionária na execução do seu golpe de 25 de Novembro. São coisas bem documentadas, ilustrando o conflito ideológico resultante da correlação de forças no plano internacional, e com forte ingerência dos EUA.
Não sejamos ingénuos. O que se pretende com estas iniciativas é sobrepor o significado político dos acontecimentos de 25 de Novembro ao próprio 25 de Abril e às conquistas daí resultantes. E não é por acaso que tais “celebrações” se intensificam neste momento concreto. É que a azia da direita pelos vistos não se cura com “Rennies”. Parece exigir o infalível remédio da manipulação histórica, e o reavivar dos “mitos urbanos” da guerra-fria.