Artigo de opinião de Paulo Santos:
Segundo Aristóteles, um homem com um homem dá uma família, uma família com uma família constitui um povo, um povo com um povo forma o Estado. O substrato humano donde emerge a “polis” foi há muito esquecido pelo processo de integração europeia. Aos ditadores de Bruxelas não interessa se os cidadãos interiorizam ou não as transformações operadas pelos tratados, vigorando sobretudo a teoria da “bicicleta”, segundo a qual a UE se parar, cai.
A respeito das eleições regionais francesas, fica bem mostrar choque com a vitória da Frente Nacional. Uma hipocrisia. Na verdade, a “eurolândia”, à medida que prossegue o seu aprofundamento, transforma-se cada vez mais numa ameaça para a soberania dos Estados e num perigo real para as conquistas democráticas emergentes da luta dos povos após a derrota do nazi-fascismo.
O diretório, dominado pelos “lobies” da finança, fez sobrepor o “despotismo” da moeda única à união política. Liquidou de vez o conceito de cidadania europeia, inaugurando uma época de discricionariedade e auto-legitimação das instituições, em que as medidas são apresentadas como inevitáveis ainda que contra a vontade dos cidadãos. Não admira que a direita fascista, agora mais sofisticada, se aproveite deste quadro para realizar os seus sinistros intentos.
É que Hollande e Sarkozy, engolidos pela tecnocracia financeira dominante, estão longe do povo, abrindo caminho para que a habilidosa Le-Pen se apresente como defensora da soberania e da legitimidade popular. Para travar a ascensão do fascismo é urgente uma Europa assente na democracia e na participação ativa dos povos. Nesse caso, a todos os “LePen´s”, nada mais restará a não ser o odioso discurso racista e xenófobo do costume, o qual decerto os conduzirá ao buraco de onde nunca deveriam ter saído.