Com a chancela da TVI que já nos vem habituando à duvidosa qualidade, à falta de rigor, à deturpação factual e, em diversas circunstâncias, ao engajamento político subliminar dos seus trabalhos ditos de investigação jornalística, assistimos na passada semana a uma reportagem transmitida para o todo nacional de uma senhora Alexandra Borges, sobre a SATA e outros assuntos com ela (mal) misturados, intitulada: “A SATA à beira da falência”…
Se o Serviço Nacional de Saúde e as suas reconhecidas insuficiências têm constituído uma privilegiada arma política danosamente utilizada pela direita durante os últimos anos para se vingar de ter sido arredada do poder em 2015, já, no caso dos Açores é a SATA e as suas reconhecidas e reais debilidades, no que respeita à prestação do serviço público de transporte aéreo de passageiros e carga, a arma privilegiada do PSD e CDS para provocar estragos políticos.
Em estreita ligação com ambas estas ofensivas, verifica-se que existe um objetivo subjacente dos interesses privados para, pela via da desacreditação de serviços públicos essenciais, criar condições favoráveis à sua privatização, financiada pelo Estado ou pela Região. Também, em qualquer dos casos, com destaque a nível nacional para os principais canais televisivos, tem sido instrumento poderoso destes inconfessados interesses a comunicação social (honrosa exceção seja feita à opinião sobre esta reportagem da TVI dada pelo “Barómetro” do Correio dos Açores de 13 do corrente).
Só num tal enquadramento se torna possível enxergar alguma lógica por cima dos inúmeros erros, imprecisões, omissões e misturada de assuntos presentes no trabalho jornalístico divulgado ao país na passada semana.
Começou logo pela vileza do título “SATA à beira da falência”. Para além do alarmismo especulativo que criou, nada mais há na reportagem que o justifique, já que, malgrado os seus prejuízos, a falência constitui à partida uma questão que não se coloca a uma empresa pública que tem por missão garantir um serviço indispensável à mobilidade dos açorianos e à economia regional.
Depois vem o engajamento político trapalhão e camuflado na voz privilegiada que se dá, excluindo a Secretária dos Transportes, a um responsável do PSD, único partido formalmente citado, e ao Vice-presidente de um sindicato (SNPVAC) que, lembrando-nos o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas, é candidato de um partido, por Setúbal, às próximas eleições.
De seguida percebe-se que a reportagem se circunscreve apenas às Ilhas do Triângulo e às justificadas queixas do mau serviço prestado pela SATA às suas populações e à sua economia, esquecendo-se de referir, no entanto, que neste caso a SATA se viu repentinamente “com o menino nas mãos” por obrigação de serviço público, depois de a TAP em consequência da sua privatização (promovida pelo governo do PSD e CDS) ter pura e simplesmente deixado de responsabilizar-se por tais obrigações e abandonado aquelas ilhas.
Finalmente mistura com estes assuntos, colocando tudo no mesmo saco e prejudicando assim gratuitamente o nome da SATA, o justo problema do prolongamento da pista do Faial e as fulcrais questões relacionadas com as consequências da atual formatação do subsídio de mobilidade, que embora muito agrade aos “cônsules” regionais da Ryanair, prejudica os açorianos, torna a despesa pública imprevisível e propicia às companhias aéreas e agências preços especulativos pagos pelo erário público e adiantados pelos residentes.
Nada disto desculpabiliza as responsabilidades do governo regional e os conhecidos erros de gestão da SATA, mas o certo é que nada disto foi feito com intenção de corrigi-los, resultando num lastimável enxovalho nacional a uma companhia que é nossa, que é suporte estratégico da mobilidade dos açorianos e da sua economia, e que há quem queira, acima de tudo, ver privatizada…
Artigo de opinião da autoria de Mário Abrantes