Lembro-me bem daquela noite. Ainda nervosa perante os resultados, lembro-me de ouvir o discurso de Passos Coelho, a falar de vitória. Lembro-me que fiquei irritada. Como era possível? Iria continuar o pesadelo "mascarado de crise". Iriam continuar os cortes cegos, o desemprego, os congelamentos, a destruição da educação e da saúde, a falta de esperança. António Costa aparecia na TV com um ar combalido a dar os parabéns a Passos e a Portas. O BE festejava efusivamente o aumento do número de deputados. No meio disto tudo, ouvimos Jerónimo de Sousa lançar um alerta. Que passado uns dias clarificou: " o PS só não é governo se não quiser". E todos ficaram em choque. O que significava aquela frase? Como podia Jerónimo de Sousa fazer aquela afirmação? Pois bem. Havia naquele momento a oportunidade de romper com o rumo desastroso que o país levava e isso não podia ser ignorado, e foi o PCP que deu o mote. Ainda assim, Cavaco ignorou o contexto, ignorou que a direita tinha tido a segunda maior derrota de sempre, e insistiu... O resto da história já se sabe... Passos e Portas formaram governo, que durou apenas uns dias...A verdade é que os portugueses queriam mudar, precisavam de mudar.
Uma nova página da história da democracia em Portugal estava então a escrever-se e uma nova fase da vida política nacional teve início. A clareza de Jerónimo de Sousa ao fazer aquela afirmação só foi possível porque veio de quem se preocupa verdadeiramente com o país e com os portugueses e não olha para o seu umbigo, ou apenas para os interesses partidários, de quem não imita ninguém nem vai ao sabor das correntes mediáticas. De quem não muda de opinião só porque dá jeito, nem entra em demagogias dos tempos modernos. Com honestidade e seriedade. O mais importante, na verdade. E muito daquilo que depois foi conseguido ao longo dos últimos quatro anos, sabe-se agora, foi porque o PCP não fez acordos a troco de quase nada. Foi porque o PCP soube negociar e soube afirmar a sua voz. Mais nenhum outro conseguiu isso (embora queiram agora ficar com os créditos…).
Uma série de mitos foram, desde aí, derrubados. Desde logo o mito da "eleição" para primeiro ministro. Não pega. Já lá vai. Elegemos deputados. São eles que nos representam. Não adianta voltar novamente com a tentativa de manipulação, porque os portugueses já perceberam. Não querem o PSD? Não votem neles! Mas também não precisam votar PS. É simples. O inverso também é verdade. O que é preciso mesmo é ir votar, pois ficar em casa não muda nada, mesmo nada.
Outro mito derrubado foi o facto de quatro anos terem servido para os portugueses perceberem que a "crise" de Passos e Portas foi o pretexto perfeito para salvar bancos e banqueiros, para retirar direitos, para destruir a escola pública e empobrecer o SNS. Por outro lado, nestes quatro anos também ficou bem claro que é possível avançar com a restituição de direitos e com aumento de rendimentos. Que o país avança com isso. Que foi possível ir mais longe, com manuais escolares gratuitos ou com a descida do preço dos transportes coletivos, por exemplo. Quem é que, antes de 2015, achava que os nossos alunos poderiam ter manuais gratuitos? Achavam impossível. Agora até a Cristas acha que os colégios deviam ter…
E se por acaso acham que o PS teria feito isto sozinho, não tenham ilusões: NÃO TERIA. (sim, em letras bem grandes, para não enganar ninguém!). E deu provas disso ao longo destes 4 anos. Em muitos momentos colou-se ao PSD e foram iguaizinhos (tão iguais que o PAN até diz: “tanto faz.…”). Basta lembrar as recentes alterações ao código de trabalho ou a novela com o tempo de serviço dos professores.
Com a CDU há uma garantia: a estar do lado certo. A CDU tem um papel insubstituível na sociedade e também no parlamento.
Chegou, pois, a altura de dizer que não se não queremos voltar para trás, pois é possível avançar muito mais. E conseguiremos com uma CDU forte, coerente e, como sempre, do lado certo.
Artigo de opinião da autoria de Paula Decq Mota, membro da DORAA do PCP