Os interesses de quem o Presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada se faz público e frequente porta-voz estão fortemente representados na amálgama política da direita e da extrema-direita que governa os Açores desde finais de 2020.
Este facto, de que já se suspeitava antes, tornou-se evidente com a aprovação da resolução governativa respeitante às obrigações de serviço público de transporte marítimo de passageiros entre ilhas, no passado dia 6 de agosto. Na semana anterior, em 29 de julho, o dr. Mário Fortuna defendia precisamente a mesma orientação numa rádio pública, considerando “desnecessária” a garantia da cobertura de todas as ilhas pelo transporte marítimo de passageiros...
A aparente concertação de opções entre o poder económico e o poder político poderia até, sem contudo deixar de ser perversa, não ser prejudicial aos interesses mais gerais da sociedade e do desenvolvimento regional. Mas, se fosse esse o caso, a verdade é que ela se tornaria praticamente desnessária.
E isso mesmo mais uma vez se comprovou com esta resolução governativa, a qual de imediato teve de enfrentar reações negativas em cadeia e disparadas de todos os quadrantes políticos, sociais, económicos e insulares.
E isso mesmo mais uma vez se comprovou ao ferir-se a coesão regional, deixando direta ou indiretamente prejudicadas nas ligações marítimas de passageiros, as ilhas de Santa Maria, Flores, S. Miguel e Corvo, ou diminuindo o número das ligações dentro das ilhas do grupo central.
Face à catadupa de críticas, o sr. Secretario Regional dos Transportes apressou-se a dar uma cambalhota verbal e a prognosticar a cobertura de todas as ilhas a custos reduzidos e utilizando barcos próprios… num futuro incerto! Certo é que nos próximos 2 ou 3 anos, a amálgama que nos governa e o presidente da CCIPDL entenderam ambos que as passagens aéreas a 60 euros justificavam o desinvestimento substancial nas ligações marítimas de passageiros. Qualquer coisa tão absurda como seria acabar com os transportes rodoviários de passageiros, em consequência da introdução do metro no Porto.
Com a diminuição do preço das passagens aéreas inter-ilhas, uma medida eleitoralista para o PSD (mas há muito defendida por outros à esquerda do PS) que a amálgama governativa foi obrigada a aplicar ao deparar-se de surpresa com o poder nas mãos, o que se passou foi que aumentou substancialmente o número de cidadãos residentes a deslocarem-se entre ilhas e, por arrasto, se assistiu a uma muito significativa dinamização económica do mercado interno. Uma importantíssima mais-valia para acrescentar à economia, à coesão regional e à anterior mobilidade dos açorianos, onde o transporte marítimo se incluía, e nunca para substituir este transporte (sobrelotando a SATA-Air Açores), conforme as pretensões mais economicistas da amálgama governativa e da CCIPDL.
Certo, certo, é que mais uma vez se comprova que o domínio do poder económico sobre o poder político nunca deu bons resultados para o bom funcionamento dos regimes democráticos e para o desenvolvimento e o bem-estar das populações…
Artigo de opinião da autoria de Mário Abrantes