A qualidade da distribuição de correspondência tem diminuído nos últimos tempos, sendo muitos os cidadãos que inclusive chegam a receber contas alguns dias após o fim do prazo estipulado para a regularização das mesmas. Os responsáveis por esta empresa, lá se vão desculpando com os atrasos da SATA, com os limites impostos pela SATA para o transporte de correspondência… enfim, sem nunca o justificarem com a falta de pessoal e a recusa em admitirem ao seu serviço mais trabalhadores. Como se tal não bastasse, já afirmaram “a pés juntos” que o plano de reestruturação da empresa não colocaria em riscos postos de trabalho… pois, pelo menos os trabalhadores que se encontram no quadro da empresa lá terão de manter por mais algum tempo, contudo, resta saber quantos trabalhadores foram admitidos ao longo do último ano nos quadros dos CTT? Quantos foram contratados como eventuais, renovando contratos sistematicamente e mandados embora ao fim do terceiro contrato para não serem admitidos no quadro, recorrendo logo de seguida a empresa à contratação de outros trabalhadores para exercício das mesmas tarefas? Se as necessidades são constantes, porque razão a empresa não admite nos seus quadros esses trabalhadores? Será que sai mais barato andar sempre a investir na formação de pessoal novo, apenas para não se admitir outros trabalhadores no quadro? E a qualidade do serviço prestado?!
O que é certo, é que após tantos rumores, após tantas manifestações de “desconfiança” em relação à política de reestruturação da empresa, após tantas manifestações de discordância e descontentamento com o rumo que está a tomar a prestação deste tipo de serviço público, quer por parte dos trabalhadores, quer por parte dos populares, um pouco por todo o país, ainda não ouvimos uma explicação lógica e perceptível sobre as reais intenções da administração dos CTT. Tudo leva a crer que a intenção será privatizar os sectores mais rentáveis da empresa, entregando-os aos privados, ficando o Estado a arcar com os menos apetecíveis aos olhos gulosos o capital. Para agravar ainda mais a situação, parece que a onda de recurso a empresas de prestação de serviços já chegou também aos CTT. Segundo consta, alguns trabalhadores que terão exercido funções como contratados até há pouco tempo e que não viram os seus contratos renovados a fim de não ingressarem nos quadros da empresa, estarão a ser contactados por uma empresa de prestação de serviços. Algumas questões se colocam que não só merecem reflexão por parte de todos nós, como merecem esclarecimento por parte dos responsáveis pela empresa na Região e por parte das autoridades competentes.
Em primeiro lugar, esses trabalhadores já receberam formação, dada pelos CTT, mas financiada por quem?! Em segundo lugar, porque razão, os CTT tendo investido na formação das pessoas e necessitando de quem assegure a prestação deste tipo de serviços, porque razão não integra estes trabalhadores nos seus quadros?! Em terceiro, quais as vantagens do recurso a uma empresa deste tipo?! Em quarto, e em jeito de reflexão, todos nós sabemos ou temos conhecimento das condições em que muitos trabalhadores deste tipo e empresas trabalham, subjugados a sistemáticos ataques aos seus direitos e em condições de enorme precaridade, quer salarial, quer laboral. Esta onda não é nova, tem-se alargado a diversas áreas, sendo comum hoje em dia encontrarmos nas escolas, nos hospitais ou noutros edifícios públicos, empresas deste tipo, prestando serviços quer na área da higiene e limpeza, quer no sector da alimentação, quer mesmo na segurança… Também não são novos nem desconhecidos da opinião pública os problemas com que muitos trabalhadores deste tipo de empresa se deparam, pois felizmente, de vez em quando, aparecem alguns que ultrapassam os medos de represálias e denunciam as situações, normalmente quando a sua situação já é de tal forma complicada que já não têm nada a perder. Por este andar, daqui a dias teremos professores, médicos, enfermeiros, e até quiçá polícias, que em vez de trabalharem para a Função Pública, trabalham para empresas privadas de prestação de serviços que vendem ao Estado o seu “produto”, pago por todos nós e muitas vezes sem ser assegurada a qualidade exigida. Por este andar, onde será que vamos parar?!
Lurdes Branco em "Politica" no Açoriano Oriental em 10/05/05