Sócrates, havia prometido mais emprego, e elegeu a área social como paixão deste Governo… veio a verificar-se mais uma vez que as paixões rosa murcham depressa, pois tal como murchou rapidamente paixão de Marçal Grilo pela educação, também a paixão de Sócrates pela área social tem conduzido e vai continuar a conduzir a um agravamento da situação de carência e um aumento dos problemas sociais com que nos deparamos actualmente. São medicamentos que deixam de ter comparticipação; é o aumento da carga fiscal sob a égide do combate ao deficit; é o ataque aos trabalhadores da administração pública transformando-os em bodes expiatórios crise; e o agravar dos ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores.
Por cá, Carlos César tinha prometido que os trabalhadores das IPSS’s teriam aumentos salariais 4% acima do decretado para a Função Pública, o que, de acordo com os meus parcos dotes matemáticos daria um aumento salarial para este ano na ordem dos 6,2% - com efeitos a partir de Janeiro. A verdade é que não só as negociações salariais começaram tarde e a más horas, como nasceram com a certidão de óbito já passada pela atitude arrogante e prepotente de quem apresenta/impõe condições que, no mínimo dos mínimos atentam contra a dignidade dos trabalhadores das IPSS’s. Propor aumentos de 2,5% para este ano e pretender negociar desde já para os próximos três anos aumentos superiores aos da Função Pública em 0,3%, é no mínimo dos mínimos um atentado aos trabalhadores das IPSS’s e à inteligência dos seus representantes. Pior ainda, quando o caldinho já há sido previamente preparado entre a directora regional da Solidariedade e Segurança Social, o SINTAP e o Sindicato dos Transportes e Turismo de Angra do Heroísmo.
Os trabalhadores das IPSS’s há algum tempo que vêm reivindicando a equiparação à Função Pública, com base no preceito constitucional de “trabalho igual, salário igual”, contudo, os sucessivos governos, concretamente os de Carlos César, não só não têm demonstrado o mínimo interesse em negociar esta questão, como têm tentado denegrir uma luta que é justa! O Presidente do Governo Regional chegou mesmo a afirmar que quem trabalha para instituições deste tipo, tem de ter espírito de voluntariado…ainda mais?! Certamente o sr. Presidente não sabe o que é trabalhar numa instituição deste tipo – para quem é um bom profissional e leva o seu trabalho a sério!
Certamente o sr. Presidente não sabe o desgaste emocional e psicológico que alguns trabalhadores de IPSS’s se vêm sujeitos! Por outro lado, o sr. Presidente ainda não conseguiu explicar porque razão, já existem alguns trabalhadores de IPSS’s que têm equiparação e outros que continuam a ganhar menos que os seus colegas da função pública estando a exercer exactamente as mesmas funções! Além disso, parece que o senhor Presidente se esquece que muitos destes trabalhadores se encontram a trabalhar em instituições cujos serviços prestados são da competência do Estado, merecendo como tal todo o respeito e consideração, como qualquer trabalhador… Lembro-me que numa das últimas greves dos trabalhadores das IPSS’s, como tem sido prática de alguns elementos deste governo – nomeadamente de um – tentaram colocar os pais de algumas creches e ATL’s contra os trabalhadores em luta… felizmente, virou-se o feitiço contra o feiticeiro e foram muitos os que demonstraram a sua solidariedade e apoio. Só espero que desta vez, e atendendo a que têm sido poucos ou nulos os progressos obtidos pela negociação, que os trabalhadores das IPSS’s mais uma vez adiram à greve numa clara demonstração de que estão dispostos a continuar a lutar pelos seus direitos.
Lurdes Branco em "Politica" no Açoriano Oriental em 05/06/05