A nomeação de John Bolton para embaixador dos Estados Unidos junto da ONU representa mais um atropelo às instituições estado-unidenses. Harry Reid, líder dos democratas no Senado, disse que esta nomeação representava “… a última manifestação de abuso de poder da Casa Branca.” A contestação interna a esta escolha não se limita apenas aos democratas, também no seio da família republicana há quem se oponha como é o caso do senador George Allen que afirmou, a este propósito – “…acho que esta opção é lamentável.” Os motivos desta contestação à nomeação de John Bolton para embaixador dos EU nas Nações Unidas são de duas ordens de razão. A primeira reside no facto de Bush ter ignorado o preceito legal desta nomeação ter o aval do Senado através de uma votação, a segunda por John Bolton ser um ultra conservador e acérrimo crítico das Nações Unidas.
A outra nomeação a que me refiro foi feita por Condoleeeza Rice que no passado dia 27 de Julho, numa cerimónia a que assistiram alguns senadores estado-unidenses e um grupo da mafiosos cubanos que têm perpetrado acções terroristas contra Cuba. Tratou-se da nomeação Caleb MacCarry para coordenador da Comissão para Assistência de uma Cuba Livre, esta Comissão nasceu há um ano pela mão de George W. Bush e tem por objectivo acelerar, segundo Bush “a queda do regime tirânico de Castro”. As vítimas civis e militares estado-unidenses no Afeganistão e no Iraque são um atentado de George W. Bush ao seu próprio povo, são igualmente vítimas os mais de cinco mil soldados que já desertaram do inferno criado pela administração de Bush e de Blair no Iraque, são igualmente vítimas os soldados que regressados a casa se confrontam com desequilíbrios de ordem fisiológica e psicológica da mais variada ordem como o comprova um estudo divulgado nos Estados Unidos. Até quando e onde irá a aventura de Bush no Iraque e no confronto com o seu próprio povo.
A nomeação do novo embaixador estado-unidense nas Nações Unidas, para além de confirmar as conhecidas qualidades “democráticas” do Presidente dos Estados Unidos representa uma afronta à comunidade internacional e que, por certo, vai causar algumas incomodidades ao “iluminado” texano. Porque será que George W. Bush quer acelerar a queda de Fidel Castro, com que direito a administração estado-unidense interfere com um país soberano, com assento nas Nações Unidas e, sendo de facto um país do terceiro Mundo, já demonstrou que mesmo apesar do desumano embargo a que está sujeito atingiu níveis de desenvolvimento social e económico muito acima dos países daquela Região, que contam com o apoio incondicional dos Estados Unidos. As Nações Unidas posicionam Cuba no grupo dos países com um Índice de Desenvolvimento Humano elevado. De que tem medo George W. Bush? Até quando a manutenção de um embargo? Que não é económico, é desumano. Até quando, e contra a opinião das Nações Unidas, vai a administração estado-unidense manter presos (leia-se sequestrados) cinco cidadãos cubanos que evitaram com a sua acção mais de 170 atentados terroristas e ignorar o movimentos cívicos que no seu próprio país exigem a sua libertação? Até quando vai a administração estado-unidense continuar a proteger terroristas como Luis Posada Carrilles e ignorar o direito internacional, o pedido de extradição subscrito pela Venezuela e exigido pela opinião pública mundial?
Ponta Delgada, 04 de Agosto de 2005 Aníbal C. Pires