Não foi e não é possível, pelo tempo que não me sobra e pelo espaço que aqui disponho. Espaço que por vezes me parece desmedido e sem fim, mas que hoje encontro exíguo tal é o desejo de partilhar um chorrilho de ideias convosco. Deixo-vos, no entanto, uma espécie de lista de desassossegos e inquietações pessoais já que me falta aquilo com que alguns foram largamente dotados – capacidade de síntese. As eleições autárquicas de 9 de Outubro, os 60 anos passados sobre o maior atentado terrorista da história da humanidade, a substituição da administração da Caixa Geral de Depósitos, os 30 anos da RTP Açores, a catástrofe anualmente repetida dos incêndios florestais, a contestação – que o Verão suavizou mas que o Outono promete – ao governo do senhor engenheiro, as eleições presidenciais na Guiné-Bissau e as locais na Venezuela, Al-Zarqawi o novo mito do terrorismo internacional trazido para a ribalta pelo antigo Secretário de Estado Colin Powell aquando da sua intervenção nas Nações Unidas para justificar a invasão do Iraque, as promíscuas ligações de ocidentais autarcas regionais a empresas de construção civil e obras públicas… e, vou parar por aqui sob pena de a coluna desta semana ser apenas uma lista de factos sobre os quais temos recentemente, uns mais que outros, ouvido falar.
Claro que poderia acrescentar o 16.º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes em que participam 15 mil jovens de 120 países e que este ano se realiza na Venezuela, ou a triste figura que algumas estrelas da música “pop” e “rock” que se aliaram ao G-8 numa cruzada caritativa para, pretensamente, resolver o problema do continente africano querendo-nos fazer acreditar que o problema de África e da fome no planeta se resolve pela caridade dos países ricos ou por SMS. Poderia igualmente falar-vos da decisão do Tribunal de Apelação de Atlanta (USA) que revogou as sentenças aplicadas a cinco cidadãos cubanos por um tribunal de Miami. Esta notícia difundida na passada terça-feira veio dar resposta aos apelos da opinião pública internacional, a um grande movimento de solidariedade e à Conclusão do Grupo de Trabalho das Nações Unidas Sobre Detenções Arbitrárias, de 27 de Maio de 2005, que considerou arbitrária a privação de liberdade aos cinco cidadãos cubanos e solicitou ao governo estado-unidense para que adoptasse as medidas necessárias para remediar esta situação em conformidade com os princípios expressos na Convenção Internacional de Direitos Civis e Políticos. As dificuldades de recrutamento de soldados estado-unidenses para o exército de ocupação do Iraque e as declarações de ex-combatentes, agora reunidos numa Associação de Veteranos da Guerra do Iraque, fazem parte desta incompleta lista de desassossego e inquietação.
Mas os dias quentes e húmidos do nosso Verão, o tempo que não tenho e a capacidade de síntese, que não me foi legada pela minha herança genética e que em devido tempo não treinei, não me permitem ir mais além. Por outro lado os leitores, que na sua maioria estarão a gozar um merecido período de férias, procuram nesta época do ano a leitura de coisas mais importantes do que uma lista de desassossegos e inquietações. O importante mesmo é ignorar estes e outros assuntos. Até o Senhor Presidente da República aconselhou a não falar da crise que o país atravessa pois, segundo o próprio, não é falando da crise que ela se resolve. Importante. Importante mesmo foi a visita dos Reis de Espanha à Região. Importante é sabermos que o Senhor Presidente do Governo Regional dos Açores foi a banhos para o Algarve e que as festas se mantêm a bom ritmo, um pouco por todos os rincões da Região.
Ponta Delgada, 11 de Agosto de 2005 Aníbal C. Pires