Esperanças e preocupações

jose_decq_motta.jpgQuando iniciamos um novo ano aproveitamos, em geral, para fazer o balanço do que nos preocupa e avivamos na nossa mente aquilo que desejamos. Sem pretender ser exaustivo gostaria, neste meu primeiro artigo de 2006, de com o coração nas mãos, deixar expressas algumas preocupações e sublinhar algumas esperanças:

1º - Preocupa-me uma eventual vitória de Cavaco Silva na 1ª volta das Presidenciais de 22/01/06, mas tenho a profunda esperança de que haverá 2ª volta e se assim for a direita revanchista e centralista não ganhará a Presidência.

2º - Preocupo-me com o atraso que a revisão do Estatuto da Região Autónoma dos Açores está a ter, já que o prazo constitucionalmente apontado está ultrapassado, mas tenho a esperança que em 2006, sem que a direita esteja na Presidência da República, se poderá fazer uma revisão democrática e construtiva.

3º - Preocupo-me com o facto da Assembleia da República, ao contrário do que fez em relação à Região Autónoma da Madeira, não ter ainda discutido a revisão do sistema eleitoral regional, mas tenho a esperança que o partido que detêm a maioria absoluta naquele órgão de soberania (o PS), queira e saiba respeitar a proposta que o PS apresentou e aprovou na Assembleia Regional.

4º - Preocupa-me fortemente com as consequências negativas para a nossa ilha do encalhe, com perda total, do “CP Valour” na baía da Fajã da Praia do Norte. Apesar de terem sido retirados produtos perigosos e centenas de toneladas de combustíveis, o certo é que ali estão milhares de toneladas de mercadorias em centenas de contentores. Conservo entretanto a esperança de que a forma como o processo tem estado a ser conduzido possa contribuir para minorar os riscos, nomeadamente, ambientais que continuamos a correr.

5º - Preocupo-me naturalmente com os problemas do desenvolvimento da nossa ilha e quando penso nisso não posso deixar de pensar na urgente necessidade que há em reordenar e ampliar o Porto da Horta, aumentando, nomeadamente, a capacidade de resposta no que respeita à escala da náutica internacional de recreio. Tenho a profunda esperança de que os faialenses saibam rejeitar firmemente qualquer proposta que vise diminuir a área útil do Porto da Horta, tal como foi esboçado num chamado estudo prévio.

6º - Preocupo-me, também com toda a naturalidade, com as questões do desenvolvimento destas três ilhas muito juntas que são S. Jorge, Pico e Faial. Cada uma delas tem a ganhar com o desenvolvimento das outras. Todas elas perdem com o retrocesso de alguma. Tenho, apesar das paralisias dos últimos anos, a esperança de que a Associação de Municípios do Triângulo saiba agir na valorização dos factores comuns que unem estas ilhas e que as podem transformar numa parte com peso relativo reforçado no contexto regional.

7º - Preocupo-me de forma muito viva com os problemas sociais que subsistem nesta e nas restantes ilhas dos Açores, mas mantenho a esperança de que com tenacidade será possível não só lutar mas conseguir transformações políticas que afastem o desemprego, a acentuação das desigualdades e todos os fenómenos de exploração que comandam a vida de hoje neste mundo. Entre as preocupações e a esperança criei há muitos anos um espaço que é um espaço de luta, que aceita e cultiva o diálogo, mas que não aceita nem a cedência nem qualquer tentativa de manipulação seja de quem for. E é por isso que afirmo com toda a convicção neste início do ano de 2006 que me preocupam todos os problemas colectivos da nossa ilha mas que tenho a esperança fundada e sólida que o diálogo político iniciado no Faial depois de Outubro de 2005 vai dar frutos sólidos.

José Decq Mota no Tribuna das Ilhas em 06/01/2006