Ruptura democrática

anibal_pires.jpgAs eleições presidenciais de 22 de Janeiro marcam a actualidade política nacional neste início de ano e, como cidadão não posso de deixar de tecer algumas considerações sobre este facto de grande significado para o futuro do país e da Região.

A direita portuguesa reunida à volta de Cavaco Silva procura, uma vez mais, ocupar um lugar que, sabiamente, o povo português nunca lhe concedeu. As tentativas de branqueamento do passado político do professor de economia que foi primeiro-ministro de Portugal durante 10 anos e as responsabilidades que, por esse facto, tem na actual crise económica, social, política e ética não podem cair no esquecimento dos eleitores portugueses e, em particular dos eleitores açorianos. Cavaco Silva foi o mais centralista de todos os primeiro-ministro, um inimigo das autonomias regionais e que nunca logrou o entendimento desta forma especial de organização do estado português que a Revolução de Abril permitiu e que a Constituição da República Portuguesa consagrou. As tentativas de demarcação do Prof. Cavaco Silva dos partidos que oficialmente o apoiam, PSD e CDS/PP, constituem uma tentativa torpe de se apresentar como um candidato independente e acima dos partidos.

Mas Cavaco Silva não é um candidato independente, a sua candidatura é suportada pelo aparelho do PSD e as suas ligações ao lado mais negro do capitalismo são evidentes, basta para isso consultar as suas listas de apoiantes. A candidatura de Cavaco Silva está fortemente comprometida com o modelo económico de desenvolvimento que conduziu Portugal à crise actual e que produziu mais de 2 milhões de pobres e 500 mil desempregados. E não foram, nem são, os factores externos e as conjunturas internacionais desfavoráveis que conduziram o país a este estado de crise aguda. Há uma lista de responsáveis, ao que ouvimos dizer todos muito competentes, e nessa lista, em lugar de destaque, está o nome do economista que quer ser Presidente de Portugal. O povo português saberá, uma vez mais, afastar da cena política nacional o ex-primeiro-ministro que também já foi, em anterior eleição, candidato presidencial e de onde saiu derrotado. À esquerda, considerada em sentido lato, existem várias alternativas. Sou, como é do domínio público, mandatário de uma delas – a candidatura de Jerónimo de Sousa. E sou-o não apenas por militância partidária mas, sobretudo, porque a candidatura de Jerónimo de Sousa é uma candidatura comprometida com o povo português, com a Constituição da República e com o modelo de desenvolvimento que ela encerra.

Sou-o porque entendo que a candidatura de Jerónimo de Sousa, a primeira a ser anunciada e a primeira a ser apresentada formalmente no Tribunal Constitucional, pode contribuir para a derrota da direita e que constitui uma alternativa de voto para os cidadãos que a cada dia que passa se vêm privados dos seus direitos, uma alternativa de voto para os cidadãos que a cada dia que passa vêm o seu poder de compra diminuir, uma alternativa de voto para os cidadãos que estão fartos de ser enganados, uma alternativa de voto para quem tem esperança e luta por um futuro diferente e mais justo. Sou-o porque a candidatura de Jerónimo de Sousa propõe uma ruptura democrática com as políticas seguidas pelos sucessivos e alternantes governos do PS e do PSD que geraram a crise que vivemos. Sou-o por determinação e confiança num Portugal com futuro para todos os portugueses. A importância das eleições presidenciais para o futuro do nosso país não pode deixar os cidadãos indiferentes, a participação democrática no espaço público criado por esta disputa eleitoral é uma responsabilidade de todos. Votar no dia 22 de Janeiro é um dever colectivo.

Aníbal C. Pires no Açoriano Oriental em 06 de Janeiro de 2006