É notório o descontentamento, apreensão e uma certa falta de motivação dos docentes, bem como dos pais que de ano para ano são confrontados com promessas que não são cumpridas e com mudanças que nos fazem andar um bocado “às aranhas” no meio disto tudo… São os livros escolares que continuam a ser diferentes de escola para escola e de ano para ano, devido ao “loby” dos editores que mesmo prestando um serviço – muitas vezes dúbio e com pouca qualidade – conseguem fazer vingar os seus interesses junto dos governantes que deveriam defender a população! São os ataques ao carácter público, universal e tendencialmente gratuito do ensino que se encontra consagrado na Constituição da República Portuguesa…! São os ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores desta área da função pública, transformados em “bodes expiatórios” dos males dum sistema que tem sido alvo de reformas e contra reformas, por quem se encontra comodamente sentado nos gabinetes e teimosamente se recusa a acatar as sugestões dos que sentem na pele as dificuldades e as necessidades. Por cá, entre o embandeirar do Secretário Regional da Educação de que estamos à frente do restante território nacional no que respeita ao alargamento dos horários escolares e o desespero dos pais que, ao chegar às três da tarde ficam sem saber o que fazer com os filhos, chega-se à conclusão de que, mais uma vez, Álamo Menezes mentiu…!
E fê-lo, como vem sendo seu hábito, com uma prepotência e uma arrogância capazes de tirar do sério mesmo o mais calmo e pacífico dos seres humanos! É que não só não vai haver alargamento do horário escolar em todas as escolas do primeiro ciclo, como continua a haver algumas que se deparam, em pleno século XXI, com uma situação não só caricata como característica de um país e de uma região subdesenvolvidos. Em Rabo de Peixe, continua a haver desdobramento de horário no 1º ciclo do ensino básico. Ou seja, continuamos a ter crianças, dos seis aos dez anos, que são obrigadas a estar na escola das 08h00 da manhã até às 13h00, ou das 13h15 às 18h15, com todas as implicações que tal tem não só na organização familiar, mas no próprio aproveitamento e rendimento escolar das crianças. Já sei que o senhor Secretário, perante esta constatação, dirá que tal se deve ao elevado número de alunos e ao reduzido parque escolar. Contudo, será necessário lembrá-lo que a remodelação do parque escolar da Vila de Rabo de Peixe e a remodelação da Escola Básica Integrada, têm feito parte dos sucessivos Planos e Orçamentos para a Região elaborados por este Governo, numa rubrica com o pomposo nome de “Intervenção Específica em Rabo de Peixe”… no entanto, e passados tantos anos, continua tudo na mesma…! Por outro lado, os órgãos do Poder Local, nomeadamente a Junta e a Câmara, também têm a sua quota parte de responsabilidade. E seria bom que, em vésperas de eleições autárquicas, os cidadãos fossem esclarecidos sobre qual tem sido o seu papel na tentativa de resolução desta situação.
Contudo, em vez de esclarecerem os eleitores com a verdade, os actuais presidentes, da Junta e da Câmara e novamente candidatos, num panfleto de propaganda eleitoral, distribuído recentemente, referem que “Na educação, (…) o ensino primário tem sido acarinhado não apenas com apoio logístico, mas sobretudo na manutenção e conservação das escolas, tendo-se despendido milhares de euros com este fim”. Certamente, nem os alunos, nem os pais, nem os professores, vêem os resultados de tal investimento. Muito pelo contrário, ou será preciso lembrar estes dois senhores que, de acordo com um grupo de técnicos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, uma das escolas encontra-se mesmo em risco de ruir?! De promessas e boas intenções “está o inferno cheio” e toda a comunidade escolar está farta de ser enganada por estes senhores.
Lurdes Branco em "Politica" no Açoriano Oriental em 20/09/05