ou seja, a abstenção, apesar de todo o descrédito e descontentamento no qual se podem buscar argumentos para não participar, representa sempre, mas sempre, um acto de resignação e a entrega de um cheque em branco para que outros o preencham. No próximo Domingo cumpre-se mais um acto eleitoral ao qual os açorianos não podem ficar indiferentes. Trata-se, é certo, de eleições para a Assembleia da República, o que para a maioria de nós quer dizer distância e alheamento. Mas a verdade é que para essa dita assembleia vão, no Domingo, ser eleitos cinco deputados pelos Açores, e mais – é nessa assembleia que serão discutidos e aprovados importantes documentos que vão influenciar o nosso futuro próximo. A Revisão do Estatuto Político dos Açores, a Revisão da Lei Eleitoral Regional, a Revisão da Lei das Finanças Regionais são algumas das questões que interessam, particularmente, aos açorianos e ao futuro dos Açores.
Há, no entanto, outras questões que não sendo particularidades açorianas interessam à generalidade dos cidadãos portugueses pois irão influenciar decisivamente o futuro do país e, consequentemente, o futuro da Região. Por estas e muitas outras razões as eleições de Domingo deveriam merecer toda a atenção dos cidadãos, desde logo, votando e depois votando de forma esclarecida e consciente nas escolhas feitas. Ao princípio da noite do dia 20 de Fevereiro serão conhecidos os 230 deputados eleitos à Assembleia da República, 5 dos quais serão eleitos pelos Açores, a composição da Assembleia irá determinar quem, e como se, formará o próximo governo da República. O peso que cada um dos partidos venha a ter, naquele que é o órgão legislativo por excelência, influenciará a política económica e social que o futuro governo venha a implementar. Nas últimas legislaturas os cinco deputados eleitos pelo círculo eleitoral dos Açores têm-se dividido pelos dois partidos do bloco central (PS e PSD). Os deputados que têm representado a Região na Assembleia da República, quer por estratégias e motivações de ordem individual, quer pelas semelhanças que existem entre as forças políticas que representam, quer ainda, porque não dizê-lo, por inércia, pouco ou nada têm feito na defesa da Região e de quem aqui vive e trabalha.
O melhor fundamento para sustentar a afirmação que fiz reside no facto de a maioria dos deputados açorianos não serem conhecidos da generalidade dos açorianos. Isto só pode ter um significado – não fizeram nada, nem bem nem mal, nada pura e simplesmente. Até o leitor, que por certo é uma pessoa informada, terá alguma dificuldade em identificar mais do que dois dos cinco deputados. Exactamente – o Dr. Mota Amaral e o Dr. Medeiros Ferreira – e que é dos outros? A questão que se põe é se os eleitores açorianos vão insistir em dar representatividade a quem não representa mais do que a si próprio (estou a referir-me aos outros três, ou melhor a outros dois, pois em nome da verdade tenho de relevar o Dr. Fagundes Duarte que não está, propriamente, acomodado às cadeiras de S. Bento), ou se pelo contrário vão diversificar a representação açoriana na Assembleia da República. A questão que se põe aos eleitores açorianos é se vão dar o seu voto a quem promete mais do mesmo, se dão o voto a quem sente a necessidade de dizer que é de confiança, ou se é desta vez que dão o voto a quem, reconhecidamente, cumpre compromissos e em quem se pode, verdadeiramente, confiar. Agora, é consigo.
Ponta Delgada, 17 de Fevereiro de 2005 Aníbal C. Pires