Esta reunião plenária alargada da DORAA analisou a actividade política desenvolvida pela organização do PCP Açores, nomeadamente a sua participação na Festa do Avante, programou e calendarizou um conjunto de actividades, no âmbito da intervenção do PCP e da CDU Açores, a serem levadas a efeito no último trimestre de 2006 e, procedeu à análise e discussão da situação política nacional e regional. Esta conferência de Imprensa tem como objectivo divulgar as principais conclusões da DORAA que, pela sua pertinência, importância e actualidade política, julgamos serem do interesse da opinião pública regional.
1. A Direcção Regional do PCP Açores destaca, das actividades programadas para o último quadrimestre de 2006, a realização de encontros de lha da CDU e, ainda no âmbito do trabalho unitário e de diálogo com os açorianos, a constituição de grupos de trabalho temáticos que se pretende sejam a génese da construção do programa eleitoral e das candidaturas que a CDU Açores apresentará a sufrágio nas eleições regionais de 2008. A DORAA do PCP considera que a realização da Festa do Avante, acontecimento político e cultural incontornável no panorama nacional, veio demonstrar, apesar das tentativas de branqueamento e desmobilização em que certas correntes de opinião continuam a insistir. A realização da Festa do Avante, veio, como dizia, demonstrar que só um partido com esta natureza consegue construir anualmente um espaço onde se celebra a diversidade, a cultura, o debate político, a solidariedade, o internacionalismo e a juventude. A participação da DORAA na Festa do Avante constitui-se como um factor de afirmação da organização do PCP nos Açores, no contexto do colectivo partidário, e sobretudo como uma demonstração da vitalidade e capacidade organizativa fundada na militância e no trabalho voluntário.
2. O aprofundamento das políticas de direita, executadas pelo governo do PS de José Sócrates a soldo de interesses de inspiração neoliberal e mercantilista, e que visam a destruição dos sectores sociais do Estado e a sua privatização assume-se como a maior e mais concertada ofensiva contra as conquistas civilizacionais do século XX consagradas na Constituição da República. A ofensiva geral desencadeada contra a administração pública, os seus funcionários e a generalidade dos trabalhadores exige que a resposta seja, igualmente, comum e firme na contestação e desconstrução dos verdadeiros objectivos que lhe estão subjacentes. A proposta de reforma da Segurança Social apresentada pelo governo reduz-se ao seu financiamento e a solução adoptada centra-se na redução da despesa, por via da diminuição das prestações e, no aumento da receita pela via do aumento das contribuições dos trabalhadores. O governo e os seus grupos de estudo, assessorias e comissões esquecem-se, porém, de que a economia e o emprego deveriam ser consideradas como variáveis fundamentais na resolução do problema e que outras formas de financiamento deveriam ser equacionadas. O crescimento económico e o emprego com direitos e remuneração justa são, desde logo, dois factores que a proposta do governo não considera ou menoriza. A deterioração da situação financeira da Segurança Social nos últimos anos resultou, em boa parte, da estagnação económica que se verifica desde 2000.
A economia não cresceu ou tem crescido abaixo das necessidades, os salários estagnaram e o desemprego aumentou consideravelmente. O resultado imediato foi a diminuição da receita e um forte aumento da despesa. O aumento da receita está, assim, directamente relacionado com o crescimento e com o emprego, embora isso não invalide a necessidade de aumento do financiamento. Financiamento que deve ter como base uma maior justiça contributiva, o combate à sub declaração das remunerações, à economia clandestina (representa cerca de 20 a 25% da economia nacional) e à fraude e evasão. Se estas medidas fossem tomadas e encaradas seriamente o aumento da receita seria de pelo menos 3% de onde resultariam, já em 2007, mais de 340 milhões de euros de receita. A eliminação de benefícios fiscais em sede de IRC, a tributação de mais valias financeiras e a criação de uma taxa contributiva sobre a riqueza criada nas empresas e não sujeitas a contribuições para a Segurança Social permitiria arrecadar, já em 2007, uma receita de mais de 450 milhões de euros. Mas José Sócrates e o seu governo ao invés de confrontar o capital prefere afrontar os trabalhadores e exigir-lhes que, mais uma vez, sejam eles, isto é, os portugueses com menores rendimentos que suportem os custos da má gestão e das políticas que atolaram Portugal neste ciclo económico recessivo do qual não se vislumbra o fim.
3. A política de desresponsabilização e a estratégia de abrir os sectores sociais do estado aos privados é também na Região o caminho que o Governo de Carlos César quer trilhar. Aliás, isso mesmo já referimos em ocasiões anteriores baseados em declarações públicas do presidente do governo que sem nenhum pudor afirmou, a propósito do sector da saúde, que onde haja investimento privado não haverá investimento público. Investimento público que se tem mostrado desequilibrado e desajustado de uma política que, em primeira instância, deveria contribuir para a coesão social e económica da Região e não aprofundar assimetrias regionais. Mas o ambiente político na Região, apesar da euforia do acréscimo dos 7 milhões de euros que as alterações à Lei das Finanças Regionais vão propiciar em 2007, é um ambiente onde reina o compadrio, o tráfico de influências e no qual se instalou, em definitivo, o medo. Os cidadãos açorianos, nomeadamente os mais jovens, estão condicionados nas suas opções políticas à oferta de trabalho. É voz corrente, entre os jovens açorianos, que para garantir trabalho o melhor mesmo é filiarem-se na Juventude Socialista.
As alterações à Lei das Finanças Regionais, só parcialmente conhecidas, mereceram por parte da DORAA a seguinte análise: - o processo de construção das alterações à Lei não foi, ao contrário do que lhe esteve na origem, participado e está enfermado de contornos pouco claros e mesmo anti-democráticos e contradizem as posições iniciais do PGR, que como todos estamos recordados era sua opinião que não aceitaria alterações à Lei. Por muito absolutas que sejam as maiorias que sustentam os governos da república e regional isso não lhes confere legitimidade para “cozinharem” no segredo dos corredores do poder instrumentos legais que podem por em causa princípios constitucionais e estatutários; - a DORAA considera que o facto de apenas o governo conhecer o conteúdo da Lei é sintomático do carácter profundamente anti-democrático do processo de revisão da LFR; - a DORAA não partilha da “euforia” transmitida pelo governo para o espaço público regional, ao anunciar um acréscimo de 7 milhões de euros para 2007 por considerar que não se devem desligar os valores agora calculados, ao abrigo da nova Lei, de outros instrumentos legais e financeiros, nomeadamente o Quadro de Referência Estratégica Regional (QRER) 2007/2013 e o valor da dívida do Estado à Região.
Esta Lei não pode alterar o principio da coesão nacional e deve ter em conta os custos de insularidade das regiões ultraperiféricas e arquipelágicas e outras especificidades regionais que são incompatíveis com uma indexação à lei da estabilidade orçamental, o que provocaria graves prejuízos para as regiões autónomas, afastando-as ainda mais da média nacional do PIB percapita que nos Açores é ainda inferior a 15% da média nacional; - a DORAA considera, ainda, que a introdução da competência de fiscalização das contas regionais, ao fim de cada trimestre, dada ao Ministro das Finanças é um grave atentado aos poderes constituídos na Região e ao sistema autonómico. A fiscalização democrática das contas regionais cabe à Assembleia Regional e a fiscalização técnica ao Tribunal de Contas. Esta norma agora introduzida no articulado da Lei das Finanças Regionais para os Açores merece, por parte da DORAA do PCP, o mais veemente repúdio. O PCP Açores lamenta que o governo regional aceite esta manobra centralista e atentatória do sistema constitucional de autonomia que consideramos como se de um regresso ao estatuto de “ilhas adjacentes” se tratasse; - a DORAA do PCP manifesta, ainda, o seu desagrado e preocupação pelas alterações ao cálculo da capitação e o seu relacionamento com as receitas uma vez que essa transformação poderá levar, a prazo, ao aumento da tributação fiscal na Região, nomeadamente por via do IVA.
Ponta Delgada, 01 de Outubro de 2006 O Coordenador Regional, Aníbal C. Pires