Biodiesel

anibal_pires.jpgEmbora o discurso dos ecologistas e ambientalistas continue a encontrar barreiras nalguns meios políticos e económicos a sua persistência e os estudos científicos, sobre os impactes negativos provocados no meio ambiente pela depredação de recursos naturais e pela actividade humana, contribuíram, decisivamente, para que actualmente exista uma generalizada consciência social e política, de que a preservação do meio ambiente tem de ser considerada como um factor determinante na sustentabilidade do processo de crescimento e desenvolvimento e, sobretudo, para a sobrevivência da própria espécie humana.
A procura de um modelo de desenvolvimento sustentável obriga a um esforço concertado dos diferentes actores (políticos, ambientalistas, cientistas, etc.) na procura de energias alternativas aos combustíveis fósseis não só, pelos efeitos nefastos da sua utilização mas também, porque estes recursos são finitos e as reservas mundiais estão a caminhar, aceleradamente, para o fim. Mas nesta procura honesta e incessante de fontes de energia que possam constituir-se como alternativa ao petróleo e, sobretudo, que sejam amigas do ambiente cometem-se, por vezes, erros de apreciação sobre os quais é necessário reflectir sob pena de, como diz o dito – “a emenda ser pior que o soneto”. Um destes dias quando “vasculhava” na Internet alguma informação sobre este tema dei com um artigo de George Monbiot, académico e ambientalista inglês, sobre a produção de “biodiesel” e os efeitos que a promoção e a procura deste “gasóleo biológico” pode acarretar de negativo para o ambiente que, todos concordamos, urge preservar. Embora a matéria-prima para a produção de “biodisel” possa ter origem diversa – reaproveitamento do óleo vegetal dos fritos domésticos, sementes de algumas plantas e algas – é o óleo de palma bruto que, por razões económicas, melhor se adapta ao mercado.
 
O desenvolvimento do mercado de óleo de palma para alimentar a produção de “biodiesel” terá sido responsável, entre 1995 e 2000, pela desflorestação de milhões de hectares de floresta na Malásia e na Indonésia para dar lugar à plantação de palmares. Se a procura e a promoção, pela União Europeia e Estados Unidos, deste “bio” combustível continuar, ou seja, havendo mercado para o óleo de palma ser transformado em “biodiesel” muitos outros milhões de hectares de floresta, neste e noutros pontos do planeta, darão lugar a plantações de palmeiras com os consequentes efeitos ambientais negativos, que julgo, todos compreendemos. O processo de transformação industrial de óleos vegetais em “biodiesel” não é poluente uma vez que não incorporam enxofre, pelo que a sua produção é apoiada por muitos ambientalistas. O facto de este combustível ter uma grande adaptabilidade aos veículos com motores de ciclo diesel traz-lhe uma grande vantagem sobre a utilização de outros combustíveis limpos como o gás natural e o biogás uma vez que a utilização destes implica uma adaptação dos motores.
 
Outra das vantagens, do “biodiesel”, é que a sua combustão permite diminuir a emissão de gases com efeito de estufa o que pode permitir gerar recursos financeiros no mercado internacional de carbono. O “biodiesel” é, sem dúvida, muito atractivo e tem inegáveis vantagens ambientais, sobretudo se forem criadas, à luz do Direito Internacional e no quadro das Nações Unidas, as condições para que a sua produção não provoque mais atentados ambientais como os que se têm verificado na Malásia e na Indonésia.
 
Aníbal Pires, In Expresso das Nove, Ponta Delgada, 10 de Março de 2006