Ajuda, Ajuda, Ajuda! Para onde quer que os meus pavilhões auditivos se virem, só consigo ouvir esta palavra. Portugal poderá ver-se obrigado a solicitar "Ajuda" ao FMI, dizem uns. Portugal não necessita da "Ajuda" do FMI, dizem outros. O FMI (o "Fominhas" como ficou conhecido em 1984, porque a "Ajuda" que trazia era a fome para muitos) vem para avalizar créditos externos, "mas só o fará à custa de rigorosas medidas de austeridade", dizia-se na altura. E quem negociou essa "Ajuda" (e as medidas de austeridade, está claro) do "Fominhas" em 1984? Um Governo PS/PSD! Precisamente um governo dos mesmos dois partidos que, em consequência directa das suas políticas governativas, pelas quais só têm repartido responsabilidades de quando em vez com o CDS durante todos estes anos, hoje voltam a estar irmanados na aplicação, mesmo antes de ensaiarem ou não outras tantas e garantidas medidas adicionais a pretexto da "Ajuda" externa, de violentas e repetidas medidas de austeridade sobre a esmagadora maioria dos portugueses, já em 2010, e na promulgação de outras, mais violentas ainda, para 2011!
A palavra "Ajuda" adquire assim um novo significado histórico e passa a querer dizer, sempre que é citada: mais recessão económica, mais cortes no emprego, na saúde, na educação, na previdência, nos salários, nas pensões, nas comparticipações e prestações sociais. Para quem sobra então o significado original da palavra?
Obviamente para Passos Coelho. O estimado Leitor ouviu com certeza o homem dizer que, caso o "Fominhas" regressasse a Portugal, teria de haver novas eleições. Para quê? Para, com tal ajuda, chegar a Primeiro-Ministro, oferecendo-se assim "patrioticamente" para aceitar os penosos encargos do exercício das funções de capataz do capital externo em Portugal, nos anos mais próximos.
Obviamente também para uma Europa que acha que não precisa de mudar de rumo e persiste em aspirar a que, em lugar de revitalizar a nossa economia e de aumentarmos e diversificarmos a produção da nossa própria riqueza, com os nossos próprios recursos, continuemos a optar por mandar as PME, a agricultura e a indústria para a reforma antecipada e a comprar os produtos agrícolas e industriais que vêem da Alemanha, da França ou da Itália.
E claro, seria sempre uma verdadeira ajuda para aqueles que, em Portugal, já garantiram a compra de mais 88% de Porshes ou de mais 25% de Jaguares, em 2010, e pretendem manter a sua capacidade aquisitiva em 2011.
Para Cavaco também, porque pouco se preocupando, como afirmou, com o aumento dos rendimentos das suas acções, tanto poderá vir o "Fominhas", como não, já que o essencial é ajudar a salvar o BPN e o sistema financeiro em Portugal, transferindo os seus activos tóxicos para o Zé Povinho, por mais discursos que em consequência disso, visando a reeleição, tenha de fazer aos pobrinhos assim multiplicados por esse país.
Para Sócrates e os candidatos presidenciais que saudaram o controlo do défice em 2010, sustentado na "Ajuda" dos cortes de austeridade já executados, como forma de equivaler àquela outra que o "Fominhas" se encarregaria de proporcionar, permitindo-lhes apregoar assim o seu "patriotismo".
Quem pode acreditar em gente desta, para quem a Pátria resta só para alguns e, sob forma de "Ajuda", se ministram repetida e consecutivamente, aos restantes, desemprego, restrições e diminuição da protecção social?
Mário Abrantes