Todos criticam um membro do grupo dos primitivos que se apossou do poder em Portugal, a mando da troika, no caso em apreço com funções delegadas pela finança europeia para a área ministerial da economia, denominado Álvaro Santos Pereira, pelo facto de ter garantido que 2012 marcaria o fim (bom, melhor explicado: o princípio do fim) da crise.
Não vejo qualquer razão para as críticas. Empenhado como está este governo em aplicar as espúrias reformas estruturais recomendadas pela UE e pelo FMI e ir mais além, ou seja, acabar com tudo o que é público até 31 de Dezembro de 2012: as freguesias e a Autonomia, o trabalho remunerado e a semana de trabalho, as reformas e as pensões, a saúde e a educação, a electricidade e a água, a RTP e os CTT, enfim, a Constituição e o Direito, naturalmente, por ausência de objecto, inevitavelmente acabará a crise…
O caso da RTP, com especial enfoque para a RTP/Açores e RTP/Madeira, é paradigmático de toda uma norma de procedimento político à margem da lei, selvática mesmo, que parece inspirar este grupo de primitivos, vestido com as camisolas do PSD e do CDS, que se apossou, pela mentira, do governo de Portugal.
Numa das suas saídas de caça um outro dos membros do grupo, de nome Miguel Relvas, decretou por livre arbítrio uma janela de 4 horas fixas para a RTP/Açores, decisão esta englobada numa campanha em maior escala para filar mortalmente o serviço público de rádio e televisão em Portugal.
Como a potencial vítima e os seus defensores resistiram à ofensiva, deixando o predador desnorteado, este, fazendo jus ao epíteto, ao invés de reconhecer o erro por não ser essa a sua natureza, resolveu reorientar a estratégia de ataque nomeando a bom preço (à custa do erário público de que tanto se arroga de cuidar) uma comissão de independentes que debitam crónicas e jornaleiam habitualmente para lisboeta ler e ouvir, e pô-los a debitar teses sobre a inutilidade pura e simples da existência do serviço público de rádio e televisão em Portugal ou a caducidade da RTP/Açores e RTP/Madeira, alegando o seu pernicioso controlo pelo poder político, coisa que, nos meios de comunicação (privada), controlados por grandes grupos financeiros e sem regras deontológicas ou obrigações de pluralismo, de que os ditos opinantes se alimentam, é coisa que não acontece, está-se mesmo a ver…
Assim, alegremente, o predador reaparece como o mal menor, contradizendo a comissão e os seus objectivos de extermínio, a dizer que sempre alguma coisa se deverá salvar para que a espécie pública não seja completamente extinta do audiovisual, e lá se vai a RTP 1 para a privada e a RTP/Açores para a janela ou para outro que a sustente, porque, como ele disse: “As audições das Regiões Autónomas são um mau hábito que tem de acabar”.
E porque os predadores andam à solta, mandatados, armados e municiados pela alta finança e pela banca apátridas, procurando seres humanos, portugueses de direito, para os espoliar em todas as áreas, onde quer que se encontrem, onde quer que trabalhem, onde quer que habitem, injectando austeridade em nome de solução nenhuma e roendo os ossos do que é público, do Estado (que somos todos nós), para alimentar o seu repasto, às vítimas acossadas não lhes resta outra alternativa senão unirem-se e defenderem-se.
Por isso a adesão à Greve Geral da próxima semana constitui um acto de elementar necessidade. Outros se lhe seguirão…em legítima defesa, até que a selvajaria acabe!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 19 de novembro de 2011