
Porque será que o (constatável) aparente adiamento de tal decisão me sussurra aos ouvidos a hipótese de um entendimento tácito entre PS e PSD para que os seus candidatos regionais disponham livremente de todo o tempo de antena desejado (que já consomem e pretendem continuar a consumir) até às regionais de Outubro? É que se a RTP/Açores não passou a janela de 4 horas, em contrapartida o telejornal regional passou fundamentalmente a arrastar-se de forma acrítica e por tempo indeterminado atrás de duas almas que pouco mais fazem do que repetir dia após dia generalidades e chavões eleitoralistas…
E de seguida, em abonatória complacência, logo surgem as vozes de comentadores ciosos afirmando que o inegável aproveitamento das funções oficiais por parte dos (chamados) candidatos à presidência “não é nada que não aconteça ao longo dos tempos e em todas as democracias”…
Tal como a existência de alguns muito ricos e de muitos pobres sempre há-de continuar, apesar da injustiça, assim também a democracia sempre se haverá de compor com aproveitadores das suas funções, apesar de isso ser feito à custa do erário público, não é verdade? Mesmo quando estes aproveitadores em campanha a tempo inteiro proclamam mais alto do que todos, abençoados pela troika e sem vergonha nenhuma, que há políticos a tempo inteiro a mais, que não há alternativa para a austeridade, que é necessário reduzir despesas e que todos temos andado a viver acima das nossas possibilidades…
Bem diz Papandreu que aquilo que afundou a Grécia e a aproximou da bancarrota, que foi decretar e executar a austeridade à custa do crescimento económico e financiar os bancos, é o caminho que está a ser repetido por Portugal. O país afunda-se em recessão e desemprego, com efeito ampliado nos Açores, e o PS diz aos portugueses que a culpa é do Governo da República, enquanto o PSD diz aos açorianos que a culpa é do Governo Regional. Nenhum dos dois partidos portanto, por mais que apele à mudança, enquanto oposição, tem capacidade de fazer diferente, estando no poder, ademais porque as opções fundamentais de ambos se vinculam prioritariamente aos compromissos com a troika, muito antes dos compromissos com os portugueses ou com os açorianos.
A solução a meu ver é não votar em nenhum, mas uma campanha que se antevê ilegitimamente prolongada e muito centrada nos dois, certamente alguns votos lhes há-de trazer e, elegendo um ou outro a maioria dos deputados, ganhará sempre a troika e a política que tem vindo a afundar o país, arrastando duplamente os Açores.
Por isso a abstenção, como opção alternativa, também pouco interferirá na indesejável continuidade do actual cenário regressivo, opressivo, anti-autonomista e sem saída a que o PS e o PSD, acolitados pelo CDS, nos remeteram.
Nesta conjuntura, por mais voltas que se dêem (e promessas que se fassam…), só a opção pela eleição de deputados descomprometidos com o pacto troikista e comprometidos sobretudo com a autonomia e os interesses de quem trabalha e produz, possibilitará, em minha opinião, retomar a esperança e reforçar a luta por dias melhores para os Açores e para os açorianos.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 14 de março de 2012
Tal como a existência de alguns muito ricos e de muitos pobres sempre há-de continuar, apesar da injustiça, assim também a democracia sempre se haverá de compor com aproveitadores das suas funções, apesar de isso ser feito à custa do erário público, não é verdade? Mesmo quando estes aproveitadores em campanha a tempo inteiro proclamam mais alto do que todos, abençoados pela troika e sem vergonha nenhuma, que há políticos a tempo inteiro a mais, que não há alternativa para a austeridade, que é necessário reduzir despesas e que todos temos andado a viver acima das nossas possibilidades…
Bem diz Papandreu que aquilo que afundou a Grécia e a aproximou da bancarrota, que foi decretar e executar a austeridade à custa do crescimento económico e financiar os bancos, é o caminho que está a ser repetido por Portugal. O país afunda-se em recessão e desemprego, com efeito ampliado nos Açores, e o PS diz aos portugueses que a culpa é do Governo da República, enquanto o PSD diz aos açorianos que a culpa é do Governo Regional. Nenhum dos dois partidos portanto, por mais que apele à mudança, enquanto oposição, tem capacidade de fazer diferente, estando no poder, ademais porque as opções fundamentais de ambos se vinculam prioritariamente aos compromissos com a troika, muito antes dos compromissos com os portugueses ou com os açorianos.
A solução a meu ver é não votar em nenhum, mas uma campanha que se antevê ilegitimamente prolongada e muito centrada nos dois, certamente alguns votos lhes há-de trazer e, elegendo um ou outro a maioria dos deputados, ganhará sempre a troika e a política que tem vindo a afundar o país, arrastando duplamente os Açores.
Por isso a abstenção, como opção alternativa, também pouco interferirá na indesejável continuidade do actual cenário regressivo, opressivo, anti-autonomista e sem saída a que o PS e o PSD, acolitados pelo CDS, nos remeteram.
Nesta conjuntura, por mais voltas que se dêem (e promessas que se fassam…), só a opção pela eleição de deputados descomprometidos com o pacto troikista e comprometidos sobretudo com a autonomia e os interesses de quem trabalha e produz, possibilitará, em minha opinião, retomar a esperança e reforçar a luta por dias melhores para os Açores e para os açorianos.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 14 de março de 2012