Artigo de opinião de Paulo Santos
Há mais de 2 décadas que se vem formando o consenso de que é imperativo compatibilizar o funcionalismo inerente à vida citadina com a preservação do ambiente e qualidade de vida dos cidadãos. A componente humana no contexto da urbe foi tomada como um avanço civilizacional, e nessa senda foram-se configurando nas cidades áreas (centrais) em que a mobilidade dos cidadãos prevalece sobre a circulação rodoviária. Foi assim em Aveiro, Évora, Braga, com ganhos ambientais e económicos.
É por esta razão que entristece a relutância dos angrenses em sequer discutir publicamente a relevante questão da reforma urbanística. Percebe-se que o apregoado título de património mundial ao invés de ilustrar a respetiva envolvência cultural, tem mero enfoque propagandista. Não melhorou a qualidade de vida das pessoas nem tão pouco potenciou nada ao nível do incremento do comércio. Isto porquanto se mantém as dificuldades de mobilidade dos cidadãos, com passeios mal cuidados, calçada em estado perigoso, por um lado; exagero de carros no seu interior, com muita poluição e constrangimento para a circulação dos peões, por outro. É uma cidade atrasada, em contra-ciclo com os avanços hodiernos.
É urgente que o poder local promova o debate em volta da reconciliação de Angra com os angrenses; importando nesse sentido dar espaço para as pessoas, restringindo vias para automóveis, particularmente no centro histórico. É tarefa difícil, implicando soluções para quem aí vive e não pode ser prejudicado, mas muito importante para a qualidade de vida na cidade. Aplicada gradualmente, com critério, em espaços selecionados, e sobretudo se acompanhada da melhoria das vias, passeios, e incremento dos transportes públicos, será benéfica quer para as pessoas, quer para o comércio.