O Verão do corrente ano irá ser um desafio para todos nós que vivemos nas ilhas açorianas. Irá ser uma temporada que podemos adjetivar como caótica. Já em maio recebemos alguns alertas do que aí vem: a aquisição do Azores Express que, como todos os açorianos sabiam, já era velho e com muitos anos de navegação. Depois, para piorar a situação, o armador rescindiu o contracto, o que resultou novamente no frete do Aqua Jewel. Resumidamente, já sabemos o que a casa gasta: navios atrasados, rotas inativas e férias destruídas.
Este Verão o Governo Regional dos Açores terá de tomar medidas relativamente aos transportes, e exigem-se medidas urgentes e sérias, porque estamos a regredir a olhos vistos, e os avanços conquistados para a melhoria da mobilidade açoriana estão a perder-se um após o outro.
Outros dos tópicos acerca do qual nós queremos refletir, juntamente com todos os açorianos que tiverem acesso a este mero desabafo, é a SATA.
O Governo Regional não pode continuar a gerir a SATA desta forma. A atual estratégia da SATA não serve os Açores nem os açorianos, mas uma empresa regional tem que estar ao serviço das pessoas e do desenvolvimento da Região.
Está em causa a coesão e o desenvolvimento equilibrado da Região, já que a redução do número de voos, os cancelamentos e os atrasos implicam não só a perda de fluxos turísticos: significa erguer barreiras à criação de oportunidades, limitando as possibilidades de desenvolvimento destas ilhas, contribuindo assim para o encerramento de empresas e o aumento do desemprego.
Há largos anos os trabalhadores da SATA vêm alertando para as más condições salariais e para a falta de meios técnicos e humanos. Pouca atenção lhes se tem prestado, mas este é um erro gravíssimo: ninguém mais do que eles, afinal, conhece os problemas de fundo de uma companhia da qual todos nós açorianos dependemos. E aqui vão alguns resultados: repetidos voos cancelados por falta de tripulação (disfarçada por razões climatéricas), falta de meios técnicos (disfarçada por razões climatéricas), sucessivas falhas de gestão (disfarçadas por razões climatéricas).
Acredito que a voz dos açorianos não pode ser ignorada. Por isso continuaremos a lutar, em toda a Região e perante todos os níveis de poder, pelo direito à mobilidade, o que implica a reorientação da SATA para aquela que deve ser a sua vocação prioritária: “servir todos os açorianos.”
O PCP está frontalmente contra a privatização da SATA e defende que a Região precisa de uma companhia aérea regional ao serviço do seu desenvolvimento harmonioso. Pedimos novamente que se façam os estudos necessários e as adaptações indispensáveis, que passam certamente pela modernização dos aeroportos e pela criação de uma frota adequada à Região.
Na situação atual, é nosso o dinheiro que é atirado para um buraco sem fim, com falhas claras de gestão e de serviço. E nós açorianos continuamos a deixar que isto aconteça, resignados e sem reação? Não se trata aqui de apontar o dedo – nunca uma solução passaria por algo de tão simples. Pretende-se sim que, para iniciar um sério processo de reconstrução das nossas condições de mobilidade, se comece por dar ouvidos aos açorianos.
Artigo de opinião da autoria de Marco Varela, coordenador do PCP/Açores