A apressada manobra ensaiada por José Sócrates e pelo PS para ver nos
resultados das eleições regionais dos Açores um sinal de apoio às
políticas do Governo é, não só manifestamente infundada, como
absolutamente despropositada.
Deixando de lado a insuspeita incoerência de o mesmíssimo PS que lestamente atirou para o lado qualquer leitura nacional dos resultados das regionais da Madeira, invocando a especificidade daquelas eleições, vir agora defender tese oposta, fixemo-nos na matéria de facto. Se alguma ilação é possível retirar dos resultados eleitorais do passado domingo essa ilação é claramente a contrária à que o primeiro-ministro retirou: as eleições dos Açores expressam uma condenação da política dos governos de Sócrates e César.
Uma condenação reflectida desde logo na abstenção – a maior de sempre alguma vez registada em eleições regionais – expressão do indisfarçável e crescente descontentamento e presente nos trabalhadores e no povo açoriano que a política dos governos do PS da República e da Região Autónoma vem gerando e do desencanto face ao agravamento das condições de vida da população, à ausência de resposta para os seus principais problemas e à asfixia da vida democrática nos Açores, que vem deixando sem horizontes de uma vida melhor a maioria dos açorianos.
Mas uma condenação sobretudo reflectida na perda de mais de 15 mil votos (curiosamente um valor idêntico ao aumento de abstenções) e de 7 pontos percentuais, correspondente a mais de 30 por cento da sua massa eleitoral. Uma condenação que só não conheceu dimensão eleitoral maior devido ao colossal caudal de meios postos ao serviço da campanha do PS, da intolerável acção de coacção e chantagem económica e social sobre os eleitores, da compra de votos e consciências e da abusiva utilização do aparelho de Estado regional ao serviço dos objectivos e da estratégia eleitoral do partido do Governo.
O esforço persistente do PS para cultivar a ideia de uma região dos Açores contrastando em virtude democrática com a da Madeira tem o mais veemente desmentido numa vida política crescentemente «ajardinada», asfixiada pelo poder tentacular do PS exercido a partir do aparelho regional e da teia de dependências económicas alimentadas pelos principais grupos económicos da região. A mais alargada pluralidade do parlamento regional é, não um qualquer certificado da saúde democrática da vida politica açoriana, como César se apressou a concluir, mas sim uma resposta de muitos eleitores ao empobrecimento democrático que a tem marcado.
De regresso ao Parlamento Regional
O regresso da CDU à Assembleia Legislativa Regional concretiza o primeiro e mais importante objectivo definido para estas eleições e confirma o progressivo avanço eleitoral da CDU dos actos de 2005 e das regionais da Madeira em 2007 e constitui um elemento do maior significado na vida política dos Açores. Num sentido marcado sobretudo pela consolidação da sua expressão eleitoral na região, os resultados obtidos pela CDU – que ficou a escassos 145 votos da conquista de um segundo mandato – traduzem, a par da assinalável influência no Faial e Flores, um progresso na maioria dos círculos de ilha e em particular na Terceira e São Miguel, contribuindo para a afirmação de um expressão regional.
Um resultado tão mais valorizável quanto a persistente campanha orientada para silenciar e desvalorizar a CDU a partir dos principais órgãos de comunicação social nacional e de alguma imprensa regional, para alimentar artificialmente uma inventada bipolarização (que os resultados de um descredibilizado PSD, os mais baixos de sempre, vieram comprovar não existir) e para promover outras candidaturas (como as do BE) com o intuito de procurar limitar o crescimento da CDU.
Um resultado que traduz um significativo progresso relativamente às Legislativas de 2005 (últimas eleições de carácter geral) – de 1556 para 2831 – traduzido, por exemplo, na quase anulação da desvantagem eleitoral face ao BE (de 1006 para 145 votos).
A corrente de simpatia que rodeou a campanha da CDU, ainda não plenamente traduzida em apoio eleitoral, a significativa renovação e alargamento das suas candidaturas e a intensa acção de contacto directo com a população abrem perspectivas para reforçar e ampliar a influência do PCP e da CDU na região. É preciso dar agora continuidade a uma dinâmica gerada pela intervenção eleitoral, envolver e fazer intervir o conjunto de activistas e candidatos que as eleições regionais agregaram, potenciar a presença parlamentar enquanto contribuição para a progressiva afirmação da CDU e do seu projecto.
Mas é sobretudo tempo de uma reforçada acção do Partido e das suas organizações, de maior proximidade às populações e aos seus problemas, de uma intervenção mais decidida junto dos trabalhadores e de estímulo à sua luta. Objectivos que a preparação do XVIII Congresso do Partido, e a realização no próximo ano do congresso regional, deve desde já impulsionar para vencer debilidades e confirmar as inegáveis potencialidades do PCP na região.
Jorge Cordeiro no Jornal "Avante!" em 23 de Outubro de 2008
Uma condenação reflectida desde logo na abstenção – a maior de sempre alguma vez registada em eleições regionais – expressão do indisfarçável e crescente descontentamento e presente nos trabalhadores e no povo açoriano que a política dos governos do PS da República e da Região Autónoma vem gerando e do desencanto face ao agravamento das condições de vida da população, à ausência de resposta para os seus principais problemas e à asfixia da vida democrática nos Açores, que vem deixando sem horizontes de uma vida melhor a maioria dos açorianos.
Mas uma condenação sobretudo reflectida na perda de mais de 15 mil votos (curiosamente um valor idêntico ao aumento de abstenções) e de 7 pontos percentuais, correspondente a mais de 30 por cento da sua massa eleitoral. Uma condenação que só não conheceu dimensão eleitoral maior devido ao colossal caudal de meios postos ao serviço da campanha do PS, da intolerável acção de coacção e chantagem económica e social sobre os eleitores, da compra de votos e consciências e da abusiva utilização do aparelho de Estado regional ao serviço dos objectivos e da estratégia eleitoral do partido do Governo.
O esforço persistente do PS para cultivar a ideia de uma região dos Açores contrastando em virtude democrática com a da Madeira tem o mais veemente desmentido numa vida política crescentemente «ajardinada», asfixiada pelo poder tentacular do PS exercido a partir do aparelho regional e da teia de dependências económicas alimentadas pelos principais grupos económicos da região. A mais alargada pluralidade do parlamento regional é, não um qualquer certificado da saúde democrática da vida politica açoriana, como César se apressou a concluir, mas sim uma resposta de muitos eleitores ao empobrecimento democrático que a tem marcado.
De regresso ao Parlamento Regional
O regresso da CDU à Assembleia Legislativa Regional concretiza o primeiro e mais importante objectivo definido para estas eleições e confirma o progressivo avanço eleitoral da CDU dos actos de 2005 e das regionais da Madeira em 2007 e constitui um elemento do maior significado na vida política dos Açores. Num sentido marcado sobretudo pela consolidação da sua expressão eleitoral na região, os resultados obtidos pela CDU – que ficou a escassos 145 votos da conquista de um segundo mandato – traduzem, a par da assinalável influência no Faial e Flores, um progresso na maioria dos círculos de ilha e em particular na Terceira e São Miguel, contribuindo para a afirmação de um expressão regional.
Um resultado tão mais valorizável quanto a persistente campanha orientada para silenciar e desvalorizar a CDU a partir dos principais órgãos de comunicação social nacional e de alguma imprensa regional, para alimentar artificialmente uma inventada bipolarização (que os resultados de um descredibilizado PSD, os mais baixos de sempre, vieram comprovar não existir) e para promover outras candidaturas (como as do BE) com o intuito de procurar limitar o crescimento da CDU.
Um resultado que traduz um significativo progresso relativamente às Legislativas de 2005 (últimas eleições de carácter geral) – de 1556 para 2831 – traduzido, por exemplo, na quase anulação da desvantagem eleitoral face ao BE (de 1006 para 145 votos).
A corrente de simpatia que rodeou a campanha da CDU, ainda não plenamente traduzida em apoio eleitoral, a significativa renovação e alargamento das suas candidaturas e a intensa acção de contacto directo com a população abrem perspectivas para reforçar e ampliar a influência do PCP e da CDU na região. É preciso dar agora continuidade a uma dinâmica gerada pela intervenção eleitoral, envolver e fazer intervir o conjunto de activistas e candidatos que as eleições regionais agregaram, potenciar a presença parlamentar enquanto contribuição para a progressiva afirmação da CDU e do seu projecto.
Mas é sobretudo tempo de uma reforçada acção do Partido e das suas organizações, de maior proximidade às populações e aos seus problemas, de uma intervenção mais decidida junto dos trabalhadores e de estímulo à sua luta. Objectivos que a preparação do XVIII Congresso do Partido, e a realização no próximo ano do congresso regional, deve desde já impulsionar para vencer debilidades e confirmar as inegáveis potencialidades do PCP na região.
Jorge Cordeiro no Jornal "Avante!" em 23 de Outubro de 2008