Foi ontem apresentada pelo deputado do PCP, Aníbal Pires, a recomendação ao Governo Regional sobre a introdução da educação multicultural nas escolas da região. Reconhecendo a existência já longa, de uma diversidade étnica que importa respeitar e valorizar, o deputado eleito pela CDU afirmou que cabe à escola o papel de veículo duma integração que se quer humana, no caminho para uma sociedade de futuro que se pretende construir.
Intervenção sobre educação multicultural
A miscigenação e a interculturalidade são marcas históricas da humanidade e naturalmente da identidade açoriana. A nossa Região, não só é composta por gentes de diversas culturas e locais, como sempre acolheu e abraçou todos os que a demandaram em busca de melhor vida, bem assim dos açorianos que regressam após terem experimentado um percurso migratório.
Os açorianos sempre foram, são e serão um povo aberto ao mundo, que sabe aceitar o estrangeiro, entender a diferença, abrigar solidária e hospitaleiramente o recém-chegado. Esta é uma realidade que as vicissitudes da história não conseguiram alterar e por isso se constitui como uma das componentes essenciais do que é ser açoriano.
As populações migrantes, que têm acorrido ao nosso arquipélago têm dado um importante estímulo para o nosso desenvolvimento económico, para a fixação de populações e, também, para o universalismo da nossa cultura, que se renova e se fortalece no diálogo com o outro.
Porque esta é a questão de fundo: A diversidade enriquece-nos.
A chegada de migrantes é, e foi desde sempre, uma oportunidade de desenvolvimento para os Açores, se a soubermos valorizar e integrar no tecido social das nossas ilhas.
É nesse objectivo que se integra a proposta que apresentámos. É esse o seu propósito e não outro. Contribuir para a valorização e integração harmoniosa dos migrantes na sociedade açoriana, mas não só. Também no seio da população autóctone se desenvolvem culturas.
Culturas que a cada passo identificamos quando observamos a sociedade açoriana contemporânea. São, por exemplo, grupos de jovens unidos por hábitos, formas de vestir e pela linguagem, ou seja, por códigos que lhes conferem diferenças e que podem ser entendidos como um grupo cultural.
O “outro”, Senhoras e Senhores Deputados, não é necessariamente o migrante. O “outro”, Senhoras e Senhores Deputados, não é necessariamente o estrangeiro. O “outro” é o diferente. Diferente pelas opções ou adesão a determinados estilos de vida, orientações estilísticas, etc.
A apresentação desta proposta não pode ser confundida com uma visão alarmista sobre choques culturais e problemas de integração que são residuais no nosso arquipélago.
O que se pretende não é resolver nenhuma dificuldade de integração, nem porventura seria este o instrumento adequado. Não queremos resolver problemas que não existem! Queremos, sim, prevenir futuras situações que possam vir a ser menos positivas.
Mas queremos sobretudo, contribuir para que este processo de potencial intercultural que vivemos, hoje porventura mais agudamente, frutifique. Ou seja, o que propomos é que se cultive a dinâmica intercultural, saindo da inércia redutora do mero reconhecimento de uma sociedade multicultural.
Consideramos que o melhor modo de o fazer é difundindo a compreensão, especialmente entre as camadas mais jovens, que a interdependência e interacção das pessoas e das culturas é a fonte da evolução, da inovação e da sustentabilidade futura da sociedade açoriana.
Pensamos que a escola pública é, naturalmente, o veículo indicado para a transmissão destes conhecimentos, para começar a construir essa compreensão.
Mas não pode, nem deve constituir um peso acrescido para os currículos. Não pode ser apenas mais uma disciplina para leccionar, até porque o fundamental do seu conteúdo está na esfera do relacional e do comportamental e não na mera acumulação quantificável de conhecimentos. E, também por isso, é importante dar às escolas a liberdade de inserirem esta temática da forma mais adequada ao seu meio e às suas comunidades.
Importa, por fim, também, dotar os educadores e outros profissionais da escola pública da necessária preparação e instrumentos técnicos para abordarem esta área. Assim, propomos não só que lhes seja dada a formação adequada, mas também se aproveite a experiência e saber já acumulado quer nas nossas escolas, quer noutras áreas da administração regional, para a elaboração de um guia de boas práticas, que deverá ser um importante meio auxiliar para a implementação transversal da educação intercultural.
Para concluir, quero salientar que a aprovação desta proposta e a implementação da educação intercultural nas nossas escolas, contribuirá para colocar os Açores na vanguarda da inovação educativa a nível nacional mas, ainda mais importante, daremos um passo importante e um sinal significativo sobre o tipo de sociedade que queremos construir.
O Deputado Regional do PCP
Aníbal Pires