Camaradas,
Não há dúvidas que o nosso é um partido que se distingue de todos os outros, pelo que é e por como se afirma pelo que é. O PCP assume todos os dias com coerência e coragem a sua identidade comunista e seu projeto de transformação da sociedade, por isso é alvo de tantos ataques e calúnias. Não convém ao capital que sejamos ouvidos sem o filtro da sistemática deturpação das nossas posições, porque os nossos argumentos seriam difíceis de negar, pela sua seriedade e consistência. Não convém ao capital o debate sério e aprofundado das questões. Daí, também, o silenciamento com que somos diariamente confrontados. Nestas circunstâncias, que sempre foram as nossas, mas que sofreram um agravamento nestes anos recentes, o Partido deve contar essencialmente com a sua própria força e capacidade de intervenção, para resistir aos ataques e cumprir o seu papel. Não temos os apoios e as tribunas que outros têm, porque não enfileiramos na senda do pensamento único que se quer impor. Para que as nossas posições sejam entendidas, temos de ser nós próprios a garantir que a nossa voz chegue às populações, aos trabalhadores, a todos os que reconhecem a hipocrisia que grassa à nossa volta, enquanto os lucros e os privilégios de alguns atingem proporções escandalosas à custa do sofrimento de muitos.
O nosso trabalho, para além de analisar os problemas e construir soluções, implica a difusão e a afirmação das nossas propostas e princípios. Tanto um como outro desses momentos – em primeiro lugar aquele em que coletivamente analisamos a realidade e elaboramos o nosso posicionamento, e a seguir a etapa da sua difusão e defesa - implicam gastos significativos. E se isto é verdade em qualquer ponto do País, na nossa Região o problema do sustento financeiro resulta inevitavelmente agravado pela nossa realidade insular.
Vejam este mesmo congresso, este momento alto e irrenunciável do nosso coletivo, e considerem o que a presença de cada um de nós comportou em termos de despesa, vindo como vimos de ilhas diferentes, de barco alguns, muitos de avião, tendo de passar uma, duas ou até três noites fora de casa, porque as ligações não nos permitem fazer de outra forma. Considerem os gastos necessários para reunir a nossa direção, que nos esforçamos sempre de constituir de forma a representar as ilhas todas, como é politicamente justo e coerente com a nossa visão dos Açores como um todo. E sempre que se aproxima um combate eleitoral, considerem a exigência que nos é colocada de repartir os nossos recursos entre 9 ilhas, de produzir materiais que se apliquem à realidade específica de cada uma e fazê-los chegar ao terreno.
São apenas exemplos. É que nenhuma das muitas atividades que desenvolvemos deixa de ter um custo financeiro importante, por muito que procuremos constantemente minimizar os nossos gastos, por vezes requerendo aos camaradas sacrifícios que não gostaríamos de pedir.
Nunca será demais insistir, então, na mensagem de que assegurar a viabilidade financeira do nosso Partido é uma tarefa central de todas as organizações e militantes, para a qual cada um é chamado a dar o seu contributo, e com grande orgulho: porque a nossa capacidade de assegurarmos os meios financeiros para a nossa atividade – dito de outro modo: não estando à venda as nossas decisões, a nossa propositura legislativa e a nossa ação política – testemunha o valor político e ético distintivo do nosso Partido. Esta forma coletiva de construir a nossa autonomia financeira torna-nos de facto diferentes de todos os outros, e reforça a nossa credibilidade quando apresentamos as nossas propostas, quando procuramos que os trabalhadores e as populações entendam e acompanhem a nossa ação, tendo a certeza de que no centro dessa ação estão de facto os seus próprios interesses, e nenhum outro objetivo que não seja a construção de uma sociedade justa.
Camaradas,
a independência financeira do Partido é indispensável para garantir a sua independência política, orgânica e ideológica. O reforço financeiro do nosso Partido é indissociável da formação política e ideológica de cada membro, de cada militante, e reflete o sucesso que temos, ou não, em transmitirmos os nossos valores a quem se associa à nossa luta.
Tanto na Região como no País, o património do Partido- isto é, os centros de trabalho, os meios técnicos e de transporte de que dispomos - são instrumentos indispensáveis à nossa intervenção, e a garantia de não dependermos de terceiros. A sua existência, só devida à generosidade de militantes e amigos, é por si só uma afirmação distintiva do PCP na sociedade portuguesa. Desde o nosso último Congresso, há uma novidade importante a assinalar: o Centro de Trabalho da Horta foi transferido para instalações que são finalmente da nossa propriedade, como já o eram as de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada.
Mas importa cuidar da boa conservação dos nossos três centros de trabalho, e da sua adaptação às necessidades de trabalho que temos. No de Ponta Delgada, foram efetuados trabalhos importante de manutenção, que ainda não acabaram: e não podemos deixar de valorizar que estes trabalhos estão a ser inteiramente suportados pela organização de São Miguel, com o contributo financeiro de alguns seus militantes, e graças ao esforço físico e à entrega de outros. Cada lata de tinta gasta, cada saco de cimento, cada prego utilizado vale mais do que custou, porque tem o valor acrescentado da militância e da compreensão de que o nosso Partido, até ao nível mais material, é e sempre será o que nós fizermos dele. Também em Angra do Heroísmo foram executados trabalhos de melhoria das instalações, em linha com o que perspetivamos como objetivo, e que ainda só parcialmente atingimos: queremos que os centros de trabalho não sejam apenas o local das reuniões, das conferências de imprensa e do trabalho quotidiano, mas que se tornem cada vez mais locais de encontro, onde os camaradas possam aparecer para ler os jornais, tomar um café, compartilhar uma refeição ou simplesmente as ideias que lhes surgiram.
É só com base neste envolvimento que poderemos assegurar os meios financeiros para suportar a ação do nosso Partido: é fundamental que todos nós compreendamos esta é uma tarefa que nos compete a todos, e pode ser desenvolvida em qualquer momento, de muitos modos diversos, e desejavelmente com criatividade e alegria.
Merece particular atenção a campanha que está a decorrer, finalizada a que cada um de nós aumente o valor da sua quota, para além, naturalmente, de manter o seu pagamento em dia. Podermos contar com o regular pagamento das quotas significa a diminuição da nossa dependência da Caixa central e das receitas com origem institucional, bem como de outras com carácter mais imprevisível, como são os ganhos maiores ou menores que cada ano podemos ter da Festa do Avante. Mas significa sobretudo a possibilidade de intensificar a nossa ação no dia a dia. Dificilmente teremos sucesso nesta tarefa se não se ampliar a estrutura de camaradas com a responsabilidade de cobrança de quotas. Recordamos que a proporção estabelecida como ideal seria a de um camarada para cada vinte membros do Partido. Estamos ainda longe de atingir este objetivo, mas a ele nos devemos dedicar, com a consciência de que esta não é uma tarefa menor ou acessória, mas sim a construção daquele patamar de estabilidade do qual depende a nossa atividade e a nossa independência.
Ninguém como o PCP sabe o que custa a vida, e por isso mesmo a luta por melhores condições salariais está no cerne da nossa ação. O reforço financeiro do Partido significa reforçar esta mesma luta, e é o caminho que se abre à nossa frente: neste aspeto, como em tantos outros, cada avanço depende do contributo que cada um de nós pode dar. Pequeno ou grande, este contributo é indispensável.
Portanto, avante camaradas, e mãos à obra.
Viva o décimo primeiro Congresso do PCP Açores!
Viva a Juventude Comunista Portuguesa!
Viva o PCP!