Mais um verão que passa e mais uma vez constata-se que a ilha de São Jorge não está preparada para receber o crescente número de turistas que chega, por esta altura, a todo o arquipélago dos Açores. Nem está preparada, nem está a beneficiar economicamente e ambientalmente! Esta constatação torna-se evidente na crescente perda de qualidade de vida por parte dos habitantes da ilha, afetados pela inflação e pela dificuldade de acesso aos bens, serviços e condicionados no acesso às suas próprias zonas paisagísticas e de lazer.
Com isto, importa salientar que o turismo, desde que articulado com outros setores, pode e deve ser encarado como meio de diversificação económica da ilha, porém com caminho traçado, rumo à massificação, tem acabado por beneficiar apenas alguns grupos económicos, dificultando a vida maioria da população. A verdade é que este caminho de aproveitamento do filão do turismo, tem provocado, de igual forma, um desleixo para com um setor mais importante da ilha – agropecuário – que se vê por esta altura afetado por uma seca que constrange e dificulta a vida a dezenas de produtores de leite e carne. Se a seca não pode ser encarada como responsabilidade governativa, as políticas adotadas para a mitigação dos seus efeitos (seja através do controlo dos preços da energia ou dos apoios dados aos agricultores), mais uma vez tardam e a falta de planeamento estratégico para o setor fica a descoberto.
Por outro lado, também é necessário que o Governo Regional comece a valorizar os trabalhadores da administração pública regional fixando-os no quadro e aumentado os seus salários. Por exemplo, é necessário que se organize, de uma vez por todas, os serviços da Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, contratando trabalhadores e planeando de forma eficiente a manutenção das estradas regionais, quer ao nível da sinalização, quer ao nível dos serviços de limpeza das bermas de estrada (abandonados durante quase todo o ano).
Relativamente a outros serviços públicos, a CDU São Jorge também vê com imensa preocupação o fecho do balcão da SATA na vila das Velas e o incêndio ocorrido no Centro de Processamento de Resíduos da ilha. Quanto ao primeiro assunto, a CDU São Jorge antevê que este fecho venha a prejudicar especialmente os serviços de pós-venda e a condicionar a própria operação da companhia aérea na ilha. No que diz respeito ao incêndio, este não pode ser descorado da ineficiente gestão de recursos, por parte deste executivo regional, associado ao progressivo desinvestimento na manutenção de bens e serviços públicos. Este incêndio tem de ser encarado como um verdadeiro atentado ambiental, contudo tem sido tratado como assunto secundário por parte deste executivo, para quem as palavras “ambiente” e “alteração climáticas” são apenas mais umas palavras bonitas que dão jeito juntar e formar uma secretaria.
Assim sendo, a CDU São Jorge considera que, neste momento e para este governo, a qualidade de vida dos jorgenses é uma componente assessória que se disfarça com o cumprimento de promessas já fora de prazo e com visitas e visitinhas à ilha. É imperativo salvaguardar a qualidade de vida dos jorgenses e criar medidas para que a ilha de São Jorge se torne num destino efetivamente sustentável:
- A começar pela manutenção de trilhos, caminhos regionais e municipais, das gruas dos portos da ilha, através de uma articulação eficiente de recursos entre secretarias, municípios e juntas;
- Na diversificação da oferta turística articulada com políticas concretas de promoção e conservação do setor agropecuário, criando condições para que a ilha se torne cada vez mais um destino sustentável para os jorgenses e para quem os visita;
- Na valorização os trabalhadores da administração pública regional, através da sua fixação no quadro e com o aumento generalizado dos seus salários;
- No aumento dos salários no setor hotelaria e restauração, dando condições aos pequenos e médios empresários para que estes possam desenvolver a sua atividade durante todo o ano sem constrangimentos;
- Por uma completa inspeção e auditoria às causas e possíveis consequências ambientais do incêndio no Centro de Processamento de Resíduos da ilha.
A Comissão de Ilha de São Jorge