O fascismo existiu, e teve a resistência e a oposição dos comunistas e do povo português. Esta foi a ideia que Mário Abrantes deixou na sua intervenção, no almoço comemorativo dos 40 anos do 25 de Abril, em Ponta Delgada, organizado pelo PCP/S. Miguel.
Afirmando que como há 40 anos, hoje é preciso libertar o país da opressão, o resistente antifascista declarou que cá estão os comunistas e os seus aliados para trazer de novo os ideais de Abril para dirigir as políticas que abrirão as portas do futuro e do progresso para o povo português.
Intervenção de Mário Abrantes
Almoço comemorativo dos 40 anos do 25 de Abril, em Ponta Delgada,
promovido pela organização do PCP/Açores
*Passaram 40 anos sobre o 25 de Abril de 1974, e houve um cravo vermelho que gerou um punho fechado (servido em rosas), setinhas (com perfume laranja), bola ao centro (com azul e amarelo), e mais recentemente juntou três em bloco (sobre vermelho e negro).
Passaram 40 anos e houve um cravo que desenterrou das entranhas da clandestinidade, da perseguição e da tortura, muita gente que, de cores diferentes embora, o cinzentismo fascista, mesmo sem o ter conseguido, pretendia ignorar ou riscar do mapa dos ativos (e mesmo dos vivos) no combate ao regime. Entre esta gente destacava-se uma associação política de corpo inteiro com já 53 anos de idade madura (vermelha como a cor do cravo), com a chancela da resistência e da luta pela liberdade adquirida numa prática dolorosa e heroica ao longo de 48 anos, que os militares revoltosos e vencedores (de cravo no cano da G3) devolveram, pela força, à luz do dia.
É de pluralismo que falamos. É de diferenças e semelhanças. De contrastes multicolores, como também foram a reconquista das cores da paz (após uma guerra continuada e injusta que se prolongou por 14 anos), ou as cores dos arquipélagos portugueses autónomos e libertos da sua cinzenta e prolongada adjacência política.
Falamos também de interesses comuns e antagónicos. De luta e esperança por uma sociedade mais livre e mais justa onde, cabendo todos, desapareçam progressivamente aqueles que se julgam no direito (e pretendem) caber mais que os outros...
E estes, longe de terem desaparecido ao fim de 40 anos, pelo contrário, assentaram praça no poder em Portugal.
O pluralismo, a paz, os direitos políticos, sociais (laborais em particular) e culturais, a autonomia político-administrativa dos Açores e da Madeira, pedras basilares constitutivas do Portugal de Abril, voltam a ser amordaçados e abertamente ameaçados pela subversão levada à prática de forma programada por mão de descendentes ideológicos do obscurantismo salazarento, suportados pelos mesmos de outrora: a oligarquia financeira e o grande capital transnacional. Também regressou o fantasma cinzentão do anticomunismo, como bem o comprovam as declarações recentes do ex-número dois de Sócrates, Pedro Silva Pereira, ao apelar à denúncia da "narrativa comunista, antes que ela se torne perigosa"...
Três das colorações nascidas com Abril, começando por amarrar o país a tratados não sufragados no âmbito da UE, com a bênção do PR, deixam-se voluntariamente impregnar pelo cinzento manto do pensamento único e da necessidade inevitável de garantir a entidades sem alma, a que chamam de banca ou troika ou BCE ou FMI, aquilo com que podem contar nos anos vindouros, em troca da impossibilidade de garantir no presente e no futuro o que quer que seja aos seres humanos que vivem neste país, no que diz respeito à estabilidade, segurança e qualidade elementares da sua vida...
Face ao empenho colocado pelos seus promotores na execução do violento assalto que está em curso aos ideais e valores de Abril, à Constituição da República Portuguesa e à independência nacional (que se pretende fique refém de uma nova troika e sujeita a multa de seis em seis meses, por mais de uma vintena de anos), as comemorações do 40ª Aniversário da Revolução de Abril, pela sua magnitude imensa e diversa, demonstraram que persiste por todo o país o empenho de sinal contrário.
Para um novo alvorecer..., os comunistas, a CDU e os companheiros que se lhes juntarem, venham da cor que vierem (pois estão todas por igual ameaçadas), são assim mais uma vez, à semelhança do que fizeram até ao derrube do fascismo, chamados a desempenhar o papel de, sem tréguas, com coragem e com determinação, manter viva a resistência em nome de Abril, da História, do presente e do futuro, até romper com o devastador, vexatório e intolerável modelo económico e social que nos está a ser imposto.