- No final do passado mês assistimos à divulgação pública de um manifesto relativo à necessidade de implantação de um “novo modelo económico para os Açores”, subscrito pela Câmara de Comércio, a Federação Agrícola e a UGT. Tratou-se no essencial da reedição de uma análise e de um conjunto de propostas genéricas já apresentados no ano transato pelas mesmas entidades, insistindo em importar para os Açores o que não passa afinal do modelo ultraliberal que tem vindo a ser praticado pelas forças políticas e económicas dominantes em diversos países da União Europeia e que teve expressão exemplar em Portugal durante o governo da coligação do PSD com o CDS, afastado em 2015.
Sobre este manifesto o jornalista José Gabriel Ávila teceu várias considerações, na edição de um de junho deste mesmo jornal, com as quais devo dizer que estou fundamentalmente de acordo. Efetivamente num pequeno arquipélago ultra periférico, distante e repartido por 9 ilhas, existem particularidades e constrangimentos socioeconómicos permanentes que nunca poderão ser compensados em termos de reposição da igualdade, condições de vida e de mobilidade, de coesão e de justiça social, por modelos economicistas, de liberalização de setores estratégicos como os transportes, energia ou outros, e pela diminuição do investimento e da dimensão da intervenção pública estatal, no nosso caso, por via do exercício da Autonomia política e administrativa.
Se o caminho preconizado no “novo modelo” agudizou as desigualdades, a pobreza, o desemprego e o desinvestimento publico em serviços essenciais do Estado ao nível do país, tudo isto se refletiria na Região de forma ampliada e mais desastrosa ainda. Sem a solidariedade regional e um forte e descentralizado investimento público, em vez de uma Região teríamos uma macrocéfala Ponta Delgada rodeada de lindas paisagens e ilhas desertas ou de difícil e muito desiguais condições de vida para os que nelas permanecessem…
De estranhar o amparo da Federação Agrícola a estas teses, quando é sabido que foi precisamente a liberalização forçada do setor leiteiro, sem atender a regiões ultraperiféricas como os Açores, que esteve na base da grave crise que o setor atravessa neste momento. E de estranhar igualmente o amparo de uma Central Sindical (UGT) a teses que subvalorizam de forma vergonhosa o direito ao trabalho com direitos e ao indispensável crescimento dos salários para restabelecer o equilíbrio na injusta divisão atual dos rendimentos entre o capital e o trabalho e para conter o aumento da exploração laboral.
- O mundo está hoje sob ameaça de um triunvirato fundamentalista que tem atuado como conselheiro próximo do Presidente dos EUA. Falamos de Michael Pence, vice-presidente; Michael Pompeo, secretário de estado e John Bolton, conselheiro de segurança nacional. Esta denúncia, na qual me revejo, é do jornalista José Goulão, no final do mês de maio no jornal “Abril, Abril”. É o passado sinistro e a mentalidade fascizante destes três homens que tem determinado a proliferação, irresponsável e à margem de todas as regras, de focos de tensão internacional de caráter económico e militar (sanções, quebra de tratados, movimentações armadas e corrida armamentista) contra todos os países que por qualquer motivo, por mais legitimo que seja, se oponham ou obstaculizem aquilo que o triunvirato considera serem os interesses dos Estados Unidos da América, reavivando a febre de manter a qualquer preço todo o planeta sob o seu domínio político e económico.
Para nossa inquietação coletiva, desde a segunda grande guerra nunca as forças amantes da paz e defensoras do desarmamento mundial tiveram pela frente momentos tão difíceis para lutar com sucesso por estes objetivos...