Todos os açorianos assistiram à mudança de Secretário Regional da Saúde. Esta “renovação” foi anunciada como uma melhoria, mas todos sabemos que isso não é verdade. Rodam as cadeiras e tudo fica na mesma. Quando se altera um membro do Governo Regional os açorianos anseiam que existam correções, mudanças, melhorias e inovações, mas todos sabemos que não é isso que vai acontecer. O Serviço Regional de Saúde está débil, velho e muito cansado: é um sistema sobrelotado e sem capacidade de responder de forma eficaz às necessidades das nove ilhas da Região.
Como noutros anos, em 2019 assistimos a greves e tivemos notícia de longas listas de espera, faltas de pagamento de deslocações, conflitos internos, constante desorganização nas evacuações, etc. Todos estes problemas são alvo de constantes promessas, as mesmas que também foram feitas nas primeiras declarações da nova Secretária Regional da Saúde.
Vamos espreitar um qualquer hospital da Região: à partida estamos logo a ver um filme de terror, com médicos e enfermeiros cada vez mais cansados e assistentes operacionais que se desdobram para suprir a necessidade urgente de recursos humanos. Vemos corredores cheios de doentes que o hospital não tem forma de receber; noutra sala vemos profissionais fartos de darem tudo por um sistema de saúde que nada lhes dá. Encontramos pessoas que para se tratarem devem deslocar-se para fora da sua ilha com meios financeiros próprios, e que depois de esperar em longas filas para receberem o pagamento da deslocação, e saem de mãos a abanar.
Mas o que transforma este filme de terror numa comédia rasca é a atitude do Governo e da respetiva secretaria, quando continuam a pregar que temos um maravilhoso Serviço Regional de Saúde e que está “tudo bem”. Como podemos acreditar nisto, quando nem sequer é respeitado o Artigo 64º da Constituição Portuguesa que consagra a saúde como direito básico de todos os cidadãos?
O Sistema Regional de Saúde é atualmente equiparável a um campo de obstáculos: o doente que queira realmente ser tratado terá de chegar ao final com sucesso. Mas este mesmo doente, na sua corrida, depara-se com obstáculos que o deixam sem hipóteses; alguns desses obstáculos são do conhecimento de secretários, membros do Governo e administrações hospitalares, contudo nada é feito. São exemplo disto as esperas de mais de 1 ano para uma consulta de especialidade, as listas de espera intermináveis para uma operação em áreas como a ortopedia (próteses, ancas e joelho, entre outros exemplos), a falta de equipamentos na área dos cuidados continuados e paliativos, a falta da construção de novos centros de saúde, o atraso no pagamento das deslocações dos doentes, a inexistência de viaturas de suporte imediato de vida a funcionarem 24 horas em algumas ilhas, entre muitos outros.
A saúde regional precisa de uma reflexão séria, construtiva e sólida entre aquelas forças políticas que reconhecem como um objetivo principal a construção de um SRS de qualidade e para todos! É urgente romper com a estagnação governativa sobre esta área. As soluções passam forçosamente pelo fim das taxas moderadoras, pelo reforço dos recursos humanos (médicos, enfermeiros, assistentes operacionais) e pelo fim das parcerias público-privadas. É urgente equipar as Unidades de Saúde de Ilha e garantir o funcionamento das viaturas de suporte imediato de vida, 24 horas por dia, em ilhas como o Faial e Pico. E é igualmente urgente garantir equipamentos e equipas para evacuações em condições de segurança e eficácia.
Se por parte dessas forças políticas existir a vontade de se discutir a saúde de forma aprofundada, dispondo-se para agir de consequência, estou certo de que teremos um SRS de qualidade e para todos, com uma receita finalmente diferente!
Artigo de opinião da autoria de Marco Varela, coordenador do PCP/Açores