Camaradas e amigos,
A Cultura constitui uma referência básica para o entendimento do povo, do local, da sociedade. Define e suporta a identidade, a tradição, a memória das pessoas. É a nossa cultura que nos distingue de todos os outros povos do mundo, que nos faz ser diferentes, contribuindo para a diversidade humana.
A Cultura recebe-se do passado e transmite-se para o futuro. Se um elemento deixa de ser transmitido, deixando de ser identificado ou memorizado, acabará por deixar de fazer parte da Cultura daquele local, daquelas gentes. A Cultura está em constante desenvolvimento, em constante crescimento: constitui-se na construção de uma desconstrução; é complexa e simples; é o que nos confere humanidade.
A Cultura é uma realidade que integra todas as formas de expressão da vida social e coletiva, numa linha de identidade, de tradição e de memória, no contexto das relações intersubjetivas, manifestando-se na forma como utilizamos a linguagem, no modo como a nossa língua materna é por nós dita e escrita, no modo como comemos, nas nossas tradições, nos nossos hábitos, nos nossos costumes. Tudo o que o ser humano aprende e produz insere-se numa realidade cultural.
A Cultura define quem nós somos. Nós herdamos, desenvolvemos e deixamos herança cultural aos nossos descendentes, que a recebem, desenvolvem e deixarão, igualmente, em herança, aos seus descendentes.
A Cultura é o nosso património imaterial mais precioso.
Atualmente, constitui um grande desafio manter-se a identidade cultural: a globalização, que determina padrões culturais baseados noutras culturas, de outras latitudes, que tentam construir algo de homogéneo e único invade as nossas vidas, o nosso quotidiano, alterando o que comemos, o que ouvimos, o que dizemos, fazendo esquecer as nossas tradições ligadas à terra, ligadas à nossa realidade específica.
Por isso, consideramos essencial a defesa da Cultura Portuguesa, na sua total diversidade, em espacial a Cultura Insular Açoriana, tão rica e prolífera.
Que elementos poderemos considerar como Cultura Identitária dos Açores? A religiosidade e as suas manifestações religiosas e pagãs; as artes plásticas: os artefactos produzidos por artistas plásticos e artesãos também são fortes elementos de identidade cultural de um povo: artesanato, escultura, pintura, entre outras manifestações; a música é um elemento de identidade cultural muito importante, em diversas dimensões, desde a composição escrita à musical; a dança, desde a sua manifestação mais folclórica à realização mais elevada; o teatro e a sua realização mais simples ou na sua realização mais aprimorada; a escrita: a literatura desde a sua manifestação mais popular à realização mais erudita, histórica ou filosófica; e, por fim, a gastronomia que é, naturalmente, um forte elemento de identidade cultural.
O PCP considera que o país e a região estão estagnados no desenvolvimento cultural, sendo justificados a falta de investimento e empenho por razões que vão desde o fator económico, passando pela questão de saúde pública e, como não podia deixar de ser, nos últimos tempos, a guerra. Tudo serve de desculpa para deixar para trás a Cultura, não se apercebendo, as gentes, que ao deixar passar este tipo de políticas, condiciona toda a própria existência humana, a sua capacidade de crescimento, a sua capacidade de crítica e até, a sua própria vontade de ir mais além, rasgar horizontes e procurar o melhor para si, para o seu país e para o mundo. Com isso, o povo mais facilmente é dominado, é enganado, torna-se, sem dar conta, cada vez mais pobre e submisso.
Somos, o PCP e os seus militantes, como não podia deixar de ser, os últimos baluartes da defesa da Cultura, do Património Imaterial de Portugal. Nós somos aqueles que tivemos a coragem, nos últimos OE, de exigir o tão difícil 1% para a Cultura. Era tão difícil que, agora, face à pressão externa do imperialismo bélico, vamos dar mais de 2%, do OE, para a Defesa, como se isso fosse a solução para colmatar os graves problemas que afetam Portugal.
É nosso dever, Camaradas, defender e lutar por uma verdadeira democratização da Cultura; para que todos tenham acesso ao melhor que produzimos e ao melhor que fazemos; a excelência é a nossa ambição, porque acreditamos que um país se define, essencialmente, pela sua expressão cultural; porque acreditamos, tal como Albert Camus, que sem a cultura, e a liberdade que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.
O país, com o PCP, tem futuro!
Viva o PCP! Vivam os Açores! Viva Portugal!
Judite Barros, maio de 2022