Opinião

Mário AbrantesArtigo de opinião de Mário Abrantes

Quando se entrevista amigavelmente um autarca – Isaltino Morais, condenado a sete anos por fraude fiscal, abuso de poder e corrupção, em horário nobre de um dos canais principais de TV, e logo de seguida no programa da manhã de um outro; quando o 1º ministro do país elogia por duas vezes como grande empresário o foragido Dias Loureiro, que esteve ligado a um processo (BPN) que já surripiou ao investimento público útil mais de 5 mil milhões de euros; quando se coloca sob investigação criminal por suspeitas de enriquecimento ilícito, à custa da política, Marco António Costa, o vice-presidente do principal partido no governo da República; quando se reconduz ao seu lugar um governador do Banco de Portugal comprovadamente lascivo em relação ao buraco do BES que já penhorou o Estado português em 3,9 mil milhões de euros; quando um Presidente da República condecora o empresário Zeinal Bava que comprovadamente lesou uma empresa pública, a PT, em 900 milhões de euros; e tudo isto apenas como amostra dum imenso lastro político/institucional de criminalidade, corrupção e abuso de poder deixado atrás nos anos mais recentes e que até levou um ex-primeiro ministro à cadeia;

Não se está de forma gravosa apenas a considerar estas práticas como toleráveis, ou até mesmo a aceitá-las como um mal menor, ao nível das diversas estruturas institucionais do Estado (Autarquias, Assembleia, Governo e Presidência).

José Decq MotaArtigo de opinião de José Decq Mota
O PSD/Açores, pôs a circular, há algumas semanas, por toda a Região, um cartaz de propaganda, de grandes dimensões, com uma única frase – “Açores a 100%”.
Penso que é caso para perguntar aos mentores desta campanha o que querem significar com tão enigmática frase, dado que ela, por si só, nada significa. As nove ilhas dos Açores são Açores a 100%; os 19 concelhos dos Açores são Açores a 100%; as 152 freguesias dos Açores são Açores a 100%; toda a população e todo o território do Arquipélago são Açores a 100%, mas num cartaz de afirmação política, integrado numa campanha de promoção pessoal de um líder regional, não é a nada disso que frase se refere!

MAbrantes2Um ano depois da saída da troika o que aconteceu foi simplesmente mais troika...

O pré-colapso na saúde para a travagem do qual, em desespero de causa e sem êxito previsível nenhum, o ex-ministro António Arnaut apelou a um dos seus carrascos: o Presidente da República, foi a manifestação mais clara da continuidade das políticas de desastre nacional encetadas com o memorando assinado pelo PS, PSD e CDS e prosseguidas com a mesma violência e insensibilidade social depois do fim da vigência daquele documento.

A farsa do "vivermos acima das possibilidades" e do "excesso de gorduras do Estado" que, segundo os executores do memorando troikista justificou os sacrifícios por ele impostos, deixou de ter sentido com a quebra arrasadora da procura interna e do investimento público em Portugal, mas nem por isso os sacrifícios, isto é, o regime de empobrecimento dito necessário mas transitório deixou de continuar a ser aplicado ao fim dos três anos, forçando tanto o investimento público como os rendimentos da maioria dos portugueses em muitos casos a recuarem a níveis de há mais de 40 anos.

No emprego, o que aconteceu foram 540 mil postos de trabalho a menos, estando o país em 2015 (segundo dados oficiais divulgados pela CGTP-in) com 1,3 milhões de desempregados e sub-ocupados, com 2/3 dos desempregados sem qualquer proteção social, com 40% de taxa de desemprego juvenil, e com milhares e milhares de trabalhadores especializados a serem pagos pelo salário mínimo.

As descidas sucessivas do IRC não contribuíram para o aumento da produtividade, mas continuam em 2015. Entretanto as empresas que nascem nem de longe nem de perto compensam os postos de trabalho, em valor absoluto, que se continuam a perder.

E, claro, prosseguiu em 2015 o enriquecimento dos mais ricos, isto é, a redistribuição acelerada da riqueza encetada pela execução do memorando. ¼ da riqueza do país encontra-se hoje na mão de 1% da sua população, colocando Portugal entre os países da UE com maior desequilíbrio a este nível.

A sobre-taxa de IRS continua de pé e o volume dos impostos mantem-se muito acima dos limites suportáveis para um mercado interno saudável.

A dívida externa (pública e privada) que era suposto começar a abater tendo o memorando por instrumento, não parou de subir com ele e sem ele.

Mas, Portugal para quem, juntamente com a Espanha, a Itália e a Irlanda, teria sido útil a solidariedade com o Povo grego, após os resultados eleitorais favoráveis naquele país à mudança das políticas troiko-europeias de empobrecimento, virou as costas à oportunidade, nada beneficiando com isso, pelo seu lado, e deixando a Grécia, pelo outro, a falar sozinha com os tubarões do capital financeiro e os seus mandantes encartados na UE.

Menos 600 milhões nas pensões para o ano, diz o governo PSD/CDS, mais flexibilidade dos despedimentos, diz o PS, mais despedimentos de funcionários públicos e cortes na Educação, diz o FMI, pois o que é isto senão, com maior ou menor gradiente, a continuação da troika em Portugal?

Para travar estas políticas retrógradas, desumanas e de espoliação nacional vai-se tornando incontornável pensar em renegociar a dívida e rever o asfixiante Tratado Orçamental da UE. E sobre isto, de forma consciente e soberana, os eleitores poderão e deverão pronunciar-se em 2015 a fim de se verem verdadeiramente livres da troika...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 22 de maio de 2015

MAbrantes2A propósito da greve dos pilotos da TAP, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "quem ganhou foi o governo e quem perdeu foram os pilotos". A mim ocorre-me opinar de forma diferente, acho que ninguém ganhou, e que quem perdeu e continuará a perder, não com a greve dos pilotos em exclusivo, mas com toda a situação que se vive na TAP, na sequência da tentativa por parte do governo da sua privatização (ainda para mais em marcha acelerada), é a própria TAP, o país e são os portugueses.

Mesmo correspondendo por ventura à opinião de muita gente sensata, da sua utilidade para interromper este processo obtuso e aprofundar o debate público sobre as reais vantagens ou desvantagens da privatização da TAP, ninguém quererá saber desta minha opinião para coisa alguma...

Já para efeito de (des)informação publica e concentração das atenções sobre o acessório, o destaque vai certeiro para a opinião daquele que é considerado um dos mais abalizados comentadores televisivos atuais, e essa opinião é que merece ser publicitada, replicada e reeditada em tudo o que são notícias, seja em TV, rádio ou jornais, durante dias após ter sido emitida.

Mudando de estação televisiva, um fenómeno paralelo e do mesmo quilate se passa com outro abalizado comentador, de sua graça Marques Mendes, o qual, de resto e por possuir acesso privilegiado (e conveniente) às fontes governamentais, adiciona aos seus dotes de comentador o sugestivo papel de adivinho.

Goebbels foi decerto um dos inspiradores destas duas cabeças e das máquinas de propaganda que por baixo as suportam.

Depois da terceira cabeça, na terceira estação televisiva, ter ido parar à cadeia de Évora, o espaço opinativo nacional ficou desta feita controlado na prática por dois ativistas e ex-líderes do PSD. Com a aproximação das eleições, este abjeto cerco partidário aperta-se mais e torna-se até absurdo.

O que vemos? Um país inteiro à beira das legislativas mas obrigado a debruçar-se, num deboche informativo, sobre as presidenciais e, em particular sobre a escolha do candidato do PSD, onde um dos abalizados comentadores (M. Mendes), sem um pingo de vergonha, propõe o outro para tais funções (M. R. Sousa) e onde o outro, da vergonha em aceitar de supetão, aponta para um terceiro nome (Rui Rio) que, no íntimo, desejaria ver relegado para as calendas gregas.

Tudo isto, sendo essencialmente um problema específico do PSD, é abusivamente vertido por duas grandes estações televisivas sobre a cabeça dos portugueses, por via de comentadores ditos "isentos" mas que se comentam a si próprios, e transformado em informação prioritária, privilegiada e de interesse nacional pelo servilismo da comunicação social em geral.

Não fossem as duas estações televisivas onde opinam dominadas por gente da sua laia e afinidade política (com mais um ex-lider do PSD dono de uma delas) e há muito que, em nome da liberdade de informação e do pluralismo democráticos, estes dois ex-líderes do mesmo partido ou não estavam já a comentar, ou então estariam sujeitos ao contraditório pela presença simultânea de um leque mais alargado de opiniões.

Mas, cientes de que são numerosos e pesados os males praticados que se impõe varrer da memória coletiva para evitar a sua estrondosa derrota, PSD e CDS não estão ainda satisfeitos e agora, mesmo sem o PS, insistem em condicionar de forma mais estreita a cobertura informativa da campanha eleitoral, por via da alteração da respetiva lei. Chega de manipulação!

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 17 de maio de 2015

MAbrantes2Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 11 de maio de 2015

Com manifesta falta de respeito por quem não pensa como ele, incluindo a Comissão Nacional de Eleições, agravada pelo facto de provir da boca de quem deveria por obrigação institucional manter a isenção, Cavaco e Silva visivelmente incomodado pela maioria PSD/CDS e o PS terem visto frustrada a vontade comum de introduzir alterações à lei da cobertura informativa das campanhas eleitorais, apelidou esta de "anacrónica" e comparou-a, num devaneio esse sim efetivamente anacrónico, com a lei da reforma agrária. Enfim, no cargo que ocupa, pouco mais há a esperar de aproveitável (e bem pouco houve até agora) deste que é com cada vez menor pudor e maior evidência o sustentáculo decisivo e um autêntico "ministro-sombra", como alguém lhe chamou, do governo PSD/CDS. Felizmente que, mau grado a desculpa de evitar a campanha eleitoral em tempo de praia para tentar prolongar artificialmente a vida do (seu) governo, Cavaco e Silva está constitucionalmente impedido de o fazer para além do prazo legal que decorre das eleições a realizar no máximo até 14 de Outubro do ano corrente.

E de fidelidade (ou submissão) incondicional e anacrónica ao governo da República e às suas nefastas, anti autonómicas e desastrosas políticas, é a imagem que fica da escolha do nome de Berta Cabral, atual secretária de estado do governo de Passos e Portas, para encabeçar a lista dos Açores pelo PSD às próximas legislativas nacionais. Além disso, para quem, como Duarte Freitas, tanto fala de renovação e de novas caras, esta escolha incidindo sobre uma figura que desde 1983 se ligou ao poder político regional e desde 1995 tem ocupado diversos cargos políticos de forma continuada, diz tudo sobre a demagogia de quem as apregoa. Se juntarmos a este panorama o arrufo doméstico de namorados entre o PSD e o CDS, que até pode em última instância agradar a Portas por garantir a sobrevivência nas ilhas de alguns resquícios dum partido em estado avançado de definhamento nacional, verifica-se em definitivo que ambos se movem no essencial por razões que passam ao largo dos interesses dos Açores e das suas populações.

Ao largo dos interesses nacionais, por sua vez, e na senda das propostas de abrandamento, que não alteração, das políticas de empobrecimento (austeridade), desregulação laboral e delapidação patrimonial do país, apresentadas pelo PS aos portugueses, acrescenta-se o malabarismo político duma hipotética contestação deste partido à privatização da TAP. Na verdade percebeu-se que essa contestação não passou de foguetório inconsequente quando António Costa veio a público para manifestar não a sua oposição à venda daquela companhia estratégica, mas antes a sua intenção de "rediscutir" com o governo PSD/CDS a 2ª (ou 3ª?) fase do processo da sua alienação, isto é, depois de consumada a privatização da maioria do capital (mais de 60%) daquela empresa. Afinal não será tão estranha ou anacrónica uma tal intenção já que foi precisamente um governo do PS que começou por defender a privatização da TAP...mas tendo em conta que aparentemente nada vincula hoje este partido àquela posição (nada vincula?) não deixa de ser lamentável que se mantenha nessa linha contrária ao interesse nacional.

Integrando sem questionar o campo do chamado "consenso europeu" e do Tratado Orçamental da UE, o PS tem assim partilhado, como diz Pacheco Pereira, o "realismo" do pensamento único que domina a Europa atual, aquele mesmo que faz correr Passos e Portas e cuja natureza ideológica não é nem "técnica" nem "neutra" mas sim claramente de direita.

Provocando por arrasto efeitos indesejáveis e negativos tanto sobre o retrato do nosso passado recente como para o devir no país, este é o principal anacronismo com que se vem confrontando um partido que ainda conta com muitos apoiantes de esquerda e que possui sem dúvida raízes de esquerda...

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