
Também de Espanha, após as eleições de domingo e apesar da vitória do PP sem maioria absoluta, sopram desde dezembro passado ventos de mudança por uma outra Europa que os jornais procuraram confundir comparando resultados com sondagens em vez de resultados com resultados, falando na derrota do Podemos aliado à Esquerda Unida, quando na realidade este partido continuou a garantir a forte implantação conquistada em Dezembro e que acabou com a bipolarização no país vizinho. É justo ver na confiança atribuída a esta aliança de esquerda uma manifestação objetiva do eleitorado espanhol por maior soberania, respeito por quem trabalha e pela reabilitação dos valores democráticos no seio da UE, contra uma oligarquia dirigente toda-poderosa que abandonou os valores da coesão e da solidariedade para substituí-los pelo distanciamento dos cidadãos, pelo princípio sacralizado da supremacia dos interesses do capital financeiro sobre quaisquer outros, fazendo-os valer pelo recurso continuado às ameaças sobre os povos e à sua legítima vontade, à submissão dos países membros pela chantagem da dívida e respetivos juros, à austeridade e às sanções económicas...
É esta Europa enquanto super-estrutura que, conforme se passou com o referendo do Reino Unido ou com a reafirmação eleitoral do Podemos em Espanha, está a ser posta em causa e, quer seja pela sua eventual desagregação ou pelo possível afastamento (voluntário ou involuntário) de alguns dos seus países membros, é da mais elementar prudência que, no caso português, não sejamos surpreendidos pela subsequente desintegração da união monetária ou a saída involuntária da moeda única.
Sem temores de ameaças chantagistas, exercendo a nossa vontade soberana e democrática, e até por uma questão de simples bom-senso político, não é tarde para que no nosso país nos batamos pela renegociação da dívida pública e estejamos preparados para uma eventual saída do Euro, venha ela a consumar-se ou não.