Artigo de opinião de Paulo Santos:
É consensual na historiografia contemporânea, a noção de que o Estado Novo foi, de entre os regimes autoritários do século passado, o mais substantivo e eloquente. É que, não se cingindo às prisões, à tortura, à censura e à perseguição política; logrou penetrar no “animus”, na essência volitiva da comunidade, determinando que a base estrutural de pensamento em que assentou perdurasse para além da sua vigência.
O “povinho” pobre, ignorante, resignadamente feliz que Amália cantou; a moral do “antes 1 passarinho na mão do que 2 a voar” dos livros da 4.ª classe, são ilustrações do princípio da fatalidade inevitável, que se exorciza com cantares à nação. Portugal era, para o povo sacrificado, o infindável rol de conquistas longínquas, abstratas, superando derrotas reais e concretas de todos os dias.