Nunca, senão no tempo da ditadura, senti tanta repugnância em ouvir, ver ou ler as notícias. Apenas com uma diferença: antes do 25 de Abril, tinha de apagar o emissor ou deixar de ler jornais. Hoje, existem os audiovisuais e outros canais que me permitem a rejeição dos primeiros, dos segundos ou mesmo dos terceiros que, ao sabor das troikas, em cataratas de gorduras informativas saturadas não sabem fazer outra coisa senão preparar-me o cérebro para o sofrimento e resignação com a dureza das medidas inevitáveis, necessárias, credíveis e responsáveis que, para além das que já vieram antes (e não foram poucas), vêm por aí aos trambolhões durante os próximos 3 anos.
A imposição que o FMI, CE e BCE fazem a Portugal e que está traduzida no chamado Memorando de Entendimento, tem uma claríssima marca ideológica, que se detecta, de entre outros, pelos aspectos e pontos seguintes: o mercado é sempre melhor que o Estado; os mecanismos de defesa dos centros nacionais de decisão são liquidados; as privatizações são aceleradas, sem sequer se atender à situação actual dos mercados; são impostas muitas reduções nos serviços públicos de saúde, educação e outros; são facilitados e tornados muito mais baratos os despedimentos; é drástica e criminosamente diminuída a protecção social aos desempregados, são dramaticamente aumentados custos em transportes, energia e medicamentos.