A caracterização distintiva da espécie humana, por oposição às restantes espécies animais, inclui, como se sabe, os seus elevados níveis de racionalidade. A evolução da condição desta espécie, ao contrário das outras, tem-se feito fundamentalmente na base dessa caracterização distintiva. Torna-se espectável portanto, como aliás a história o tem demonstrado com frequência, que a interdependência social desta espécie (a sociedade) se sustente em sistemas de poder e lideranças que busquem precisamente na racionalidade uma forma privilegiada de funcionamento.
Sou forçado a concluir, no entanto, que atravessamos um momento histórico adverso à preservação e desenvolvimento da espécie considerada…
Muito embora seja minha intenção dedicar esta coluna predominantemente a temas locais e regionais, momentos há em que não podemos nem devemos ignorar temas de maior dimensão e envolvência. As mais recentes evoluções da situação nacional, nas vertentes política, social, económica e financeira, exige de todos nós uma atenção crítica e uma disponibilidade de acção que não devem ser escamoteadas. Por isso dedico o artigo de hoje à apresentação de algumas opiniões sobre essas questões decisivas para a nossa vida colectiva.
Começo por dizer que dá a ideia que já tocámos no fundo! Quando um 1º Ministro e um Governo apresentam como medida de austeridade para 2012 e 2013 o congelamento das pensões mais baixas, que por o serem, estão sujeitas a um regime de actualização automática que cobre a inflação do ano, temos que concluir que se pretende acentuar ainda mais a enorme e muito profunda injustiça que marca a nossa sociedade.
Quem se apresenta esfarrapado e de mão estendida, perante outrem, a mendigar, ainda que de forma indigna e obrigado pelas circunstâncias, estará contudo a zelar pelo seu interesse e pela sua sobrevivência.
Este cenário tem sido frequentemente utilizado para retratar de forma metafórica a situação do nosso país, e do seu actual governo, perante Bruxelas, o Banco Central Europeu ou o governo alemão.
Mas ficou mais claro, após o anúncio unilateral e repentino de novas medidas de austeridade (o PEC 4) e a forma como se apresentou o (periclitante) primeiro-ministro português, recém-chegado da reunião do Conselho Europeu do passado fim-de-semana, que um tal cenário, se é que alguma vez correspondeu, deixou em definitivo de corresponder à realidade.
Em Abril de 2010 publicou o semanário Tribuna das Ilhas um artigo da minha autoria intitulado “A Pesca do Chicharro”, no qual alertava para o elevado número de licenças de pesca com redes de argola passadas para barcos da Ilha de São Miguel que fazem a pesca do chicharro.
Passado um ano, o peixe continua ir para lixeira e os pescadores, que normalmente fazem esta pesca, a ganhar soldadas miseráveis!! Os Açores beneficiam-se de situação geográfica privilegiada relativamente a muitas outras paragens, pese embora o facto de, nos últimos anos, os invernos serem bastante rigorosos e, por consequência, os pescadores ficarem por longos períodos sem poder sair para o mar.
O Governo de Sócrates anunciou na manhã do dia 11/3 um conjunto espantoso de medidas que atingem, especialmente, de forma fortíssima, irracional e inaceitável os reformados e pensionistas.
Guardado em segredo, este novo PEC foi levado pelo 1º Ministro a uma cimeira da União Europeia, como “garantia” da política imposta pelos dominadores da Europa e aceite de forma totalmente subserviente por quem ainda governa o nosso Pais. O Governo de Sócrates, já completamente incapaz de tomar qualquer atitude substancial e formalmente correcta, não hesita em tirar a quem nada tem, a “escanchar-se” em cima das Autarquias e das Regiões Autónomas, em cortar ainda mais nos medicamentos e na educação, como não hesita em anunciar tudo isso sem nada dizer ao Presidente da Republica e à Assembleia da Republica.