Como se fora Portugal inteiro a ir a votos para um único partido, o espetáculo consistia afinal na transmissão direta de umas eleições à americana que, num país de dez milhões, mobilizaram 110 mil cidadãos (menos que o nº de participantes em algumas manifestações dos últimos anos em Lisboa), para escolherem entre duas figuras a apresentar pelo PS nas próximas legislativas como "candidatos a 1º ministro", uma candidatura imaginária pois, que eu saiba, o que há são candidaturas à Assembleia da República...
Longe de mim com esta crítica atingir quem livremente se dispôs a ir votar. Mas o destaque foi francamente exagerado, ao ponto de chamarem de avanço democrático histórico a uma encenação que pouco para além foi de uma disputa de galos donde, tendo como pano de fundo um país em processo de demolição política económica e social, nem uma ideia ou uma proposta alternativa útil e construtiva saiu da boca de qualquer dos contendores.
Finalmente uma proposta positiva que nos foi dada a conhecer, em termos de formalização a título individual pelo deputado do PSD na Assembleia da República, Mota Amaral, e simultaneamente de forma concreta e objetiva pelo PCP/Açores, em articulação com o Grupo Parlamentar do PCP naquele hemiciclo: Este grupo, invocando o fim da vigência das medidas anti-autonómicas impostas pelo memorando da troika, decidiu apresentar na Assembleia da República uma proposta de revisão da Lei de Finanças Regionais (que, como todos sabemos, foi no ano transato truncada e limitada de forma impositiva pelo poder central), recuperando, entre outras matérias, o limite do diferencial fiscal do Continente para os Açores de 20% para 30%.
Ao Grupo Parlamentar do PSD na República não lembraria certamente apresentar uma proposta destas, mas poderia ter lembrado ao Grupo Parlamentar do PSD ou do PS no Parlamento Regional, o que no entanto não aconteceu. Ao menos lembrou a um deputado açoriano da AR, restando agora ver como responderão, na República, a atual coligação maioritária e o reformulado PS/António Costa, à oportuna e acertada iniciativa do PCP...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 1 de outubro de 2014