Enquanto a política de austeridade entrava em força, segundo o Diário Económico, 11 banqueiros foram premiados em 2011 recebendo cada um de remuneração média anual (que antes era de 1,4 milhões), 1,6 milhões de euros. Com o aval de Sócrates e Passos Coelho…
O Estado entregou em janeiro deste ano ao Banif, em condições altamente favoráveis para o Banco, 1.100 milhões de euros de dinheiros públicos. O Banif, não cumprindo os compromissos de pagamento entretanto acordados até Junho e sem que ninguém fosse por isso incriminado, pretende agora, com ações a 2 ou 3 cêntimos cada, repor uma irrisória parte do capital que deve ao Estado, recebendo o aval direto de Passos Coelho e Paulo Portas.
Com os criminosos já inocentados, para além dos estimados 8 mil milhões de euros que a fraude do BPN e a sua desastrosa nacionalização já surripiou às contas públicas (isto é, aos nossos salários, pensões ou reformas, por exemplo), o Banco foi vendido ao BIC de Mira Amaral por 0,5% desse valor (40 milhões) e este último confirma entretanto que depois disso já recebeu do Estado um reembolso de encargos de 22 milhões e, embora não revelando quanto, tem mais ainda por receber (segundo o PCP poderá chegar aos 100 milhões)! Pelos vistos a compra do BPN ao Estado foi do género da compra dos títulos da dívida alemã, isto é, fez-se a juros negativos. O BIC vai receber do vendedor do BPN, o Estado, mais do aquilo que pagou por ele…E tudo isto negociado pela atual Ministra das Finanças (que afinal também sabe e teve alguma coisa a ver com o que se passou com as chamadas SWAP), proposta por Passos Coelho, irrevogavelmente engolida por Portas e empossada por Cavaco.
E é esta cambada de sugadores dos dinheiros públicos para entrega aos privados, aproveitando-se para isso dos votos do povo, empobrecendo-o de forma contínua e garantindo mais e mais desemprego e recessão, quem está entretanto agora muito empenhada em negociar entre si a “Salvação Nacional”, na sequência de uma dúbia e confusa decisão de um dos seus membros, o professor Cavaco que, falando de eleições antecipadas, foge delas como o diabo da cruz, sem deixar por isso de evitar a continuidade da desconfiança oportunista, agiota e insaciável dos mercados.
Efetivamente, para esta cambada, eleições antecipadas sim mas desde que falseadas por uma garantia prévia de um acordo tripartido prévio que garanta posteriormente a continuidade das mesmas políticas e nunca ponha em causa qualquer reestruturação ou revisão da dívida e qualquer negociação de novo e diferente acordo com (ou sem) a troika ou com a UE.
E não merece censura uma cambada destas, que inclui um presidente batoteiro, um governo que se mantem em plenitude de funções e uma maioria que continua a decidir todos os dias a mata-cavalos mais e mais medidas restritivas e recessivas para cumprir um programa dito de ajustamento cujos principais artífices se vão demitindo, por reconhecer o falhanço dos resultados previstos? Não merece, esta cambada, ser afastada pelos portugueses, devido aos destinos inconsequentes e trágicos que programou fria e metodicamente, com a UE e o FMI, para o seu presente e para o seu futuro?
A corda continua a esticar entre o povo e os seus dirigentes, continuando estes últimos a ignorar a vontade soberana do primeiro.
Esta acalmia de Verão é apenas aparente…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 19 de julho de 2013