Opinião

jos_decq_mota_webHá muito que penso e afirmo que Portugal e os Portugueses estão a ser agredidos, com enorme violência, por uma aliança profunda que existe entre quem governa o País, quem manda na União Europeia e quem existe para moldar as economias e as sociedades ao interesse do grande capital financeiro.

O resultado dessa agressão é devastador: enorme desemprego; quebra acentuada do rendimento de quem trabalha, ou vive de reformas ou pensões; recessão económica muito profunda; desregulação gravíssima das relações de trabalho e outras relações sociais; enfraquecimento notório de todos os sistemas sociais públicos, com destaque para a saúde, educação e segurança social; delapidação irresponsável de património publico; diminuição muito acentuada de todas as funções do Estado; menosprezo fortíssimo pelas funções soberanas do Estado e pelos que as asseguram, com destaque para as Forças Armadas.

A nova “ortodoxia europeia” consiste em aplicar aos mais fracos a ditadura ou o domínio do grande capital financeiro e preservar, manter e aprofundar o domínio da economia alemã sobre as restantes.

A forma arrogante, autoritária e dominadora como vários ministros e comissários europeus (com destaque para o ministro alemão das finanças) se permitem comentar assuntos, decisões e questões internas portuguesas, é reveladora da natureza e dos objectivos da agressão.

O comportamento do governo português é escandaloso e situa-se no domínio da traição à Pátria. Não há hoje um governo de Portugal. Há antes uns portugueses que estão no governo, apenas e só, a fazer o que lhes é dito, de fora, para fazer, sem ter em qualquer conta os interesses de Portugal e os interesses legítimos de quem trabalha, de que produz, de quem está doente, de quem estuda, de quem quer trabalhar e não tem onde.

Este governo resultou de eleições, mas há muito que perdeu legitimidade, na medida em que fez tudo o que em campanha eleitoral disse que não faria e não fez nada do que disse pretender fazer. Este governo, a desfazer-se aos bocados, teve a ousadia de apresentar, por dois anos consecutivos, Orçamentos com normas inconstitucionais, num claro afrontamento à Lei Fundamental. Este governo, porque não é, de facto, do País, é incapaz de dizer aos alemães, aos barrosos de Bruxelas, aos dominadores do FMI e aos banqueiros que gerem o BCE, qualquer coisa como: Alto aí! Nós temos um Tribunal Constitucional que nos diz que não podemos ir por ai!

Um governo que afronta a Constituição, que desrespeita o Tribunal Constitucional, que vive obcecado em proteger meticulosamente os grandes interesses financeiros e os grandes grupos económicos, que não abre a boca, senão para dizer que é ”bom aluno” e que faz tudo o que lhe mandam fazer, que não acertou em qualquer previsão importante, que está a cilindrar a economia real, que está a destruir tudo o que é de interesse publico e que é incapaz de dizer que esta receita não serve a Portugal, não pode continuar a ser governo.

Portugal precisa de um verdadeiro Governo. Não podemos aguentar mais este governo feito por portugueses que não estão, nem querem estar, antes de qualquer outra coisa, ao serviço de Portugal!

 

Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 11 de Abril de 2013

mario_abrantesSe o Presidente da República e outras instituições mandam para fiscalização do Tribunal Constitucional determinadas medidas orçamentais, decretadas para 2013 pelo governo da República, porque as consideram passíveis de inconstitucionalidade, estão, penso que responsavelmente, a pedir ao Tribunal Constitucional que, no âmbito das suas competências, cumpra as suas funções e se pronuncie sobre elas, não é verdade?

E o que fez o TC? Cumpriu as suas obrigações e pronunciou-se…

É portanto totalmente condenável a atitude de estupefacção, de crítica, e sobretudo de inusitado alarmismo provocado em todo o país e repercutido na União Europeia pelo governo PSD/CDS, perante o juízo constitucional emitido pelo TC e as deliberações nele contidas, em particular no respeitante ao princípio constitucional da igualdade, só porque o vinculativo respeito por esta última poderá originar um “buraco” de 1milhão e 300 mil euros, antes, pelos vistos ilegitimamente orçamentados. Estamos perante um governo que em lugar de rectificar as suas orientações ilegítimas, se apresenta sem rumo e responde com o descontrolo e o bloqueio da máquina do estado (veja-se o que fez o incompetente e autoritário ministro das finanças), apenas porque a igualdade implica repensar despesas no valor de somente mais duzentos mil euros do que a quantia entregue por este mesmo governo há cerca de um mês ao BANIF. E a isso já ninguém chamou de “buraco” (sendo-o de facto), nem tão pouco, com isso, vislumbrou qualquer perigo para o ajustamento orçamental…

Quem manda fazer estudos desacreditados para minar a opinião pública com a ideia divisionista de que os funcionários públicos são mais privilegiados que os do sector privado, o que, nos tempos que correm, não acontece na maioria das categorias profissionais equiparáveis (como estudos sérios o indicam), também está pronto para utilizar sem escrúpulos as decisões soberanas do TC, dramatizando-as, como pretexto para se desresponsabilizar da política desastrosa e anticonstitucional que, ao serviço de interesses alheios a Portugal e aos portugueses, tem desenvolvido e se propõe continuar a desenvolver, criando um buraco orçamental crescente que, só em juros, vai chegar aos sete mil milhões em 2013. E a isto (sendo-o de facto) ninguém ligado ao poder chama “buraco”, nem disto faz alarme...

Se calhar foi o TC que em três anos de troika e de governo PSD/CDS criou mais 400.000 desempregados oficiais e se esqueceu de taxar dividendos que dariam para suplantar o dito “buraco” da decisão constitucional; que, justificando com a redução do défice a austeridade contínua praticada, falhou todas previsões com respeito à projetada redução e aumentou a dívida pública em mais 30%; que, junto com os salários, fez cair o consumo privado em quase 60% e o investimento público em quase 80%; que está sem beliscar as PPP, as rendas excessivas e as transacções financeiras, provocando desigualdades em cima de desigualdades, o sobre enriquecimento de uns quantos e o empobrecimento de milhões.

E face a todo este cenário de ilegitimidade e instabilidade governativas, o Presidente da República manda a Constituição às malvas, e dá plena confiança a quem não a tenciona cumprir. O governo e o presidente colocam o país sob a chantagem da troika e da U. Europeia (que se diz orientada por princípios democráticos), utilizando de forma vil o falso pretexto da decisão do TC para conseguirem acrescentar mais depressa outra reforçada dose de austeridade que afinal já antes estava combinada entre eles.

Está na hora de enfrentar a troika e assumir Portugal. E vai ficando mais claro para todos que só com outra política e outro governo isto será possível.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 10 de abril de 2013

jos_decq_mota_webO que se andou a fazer nesta Europa da União, com as sucessivas alterações aos tratados e com a construção da moeda única com as características que tem, foi criar as condições para ir trocando as soberanias nacionais pelo poder dominador de um diretório cada vez mais reduzido a um único País, a Alemanha.

Depois de feito um longo caminho de negação da ideia que a construção europeia teria que assentar na cooperação e solidariedade de Países Soberanos com muitos interesses comuns, a realidade é hoje tão crua, quanto clara: a União Europeia está feita em cacos, transformou-se, simultaneamente, no veículo do poder do grande capital financeiro e no instrumento do domínio económico alemão sobre os restantes países da União. A Europa está feita em cacos, mas possui um enorme aparelho burocrático que domina ainda as elites governantes da generalidade dos países da União.

A questão do Chipre foi tratada, pela União Europeia, de modo brutal e obscuro. A natureza brutal da intervenção é semelhante a outras intervenções que contemplam confisco de rendimentos legítimos, mas foi agravada pelo facto de ter estilhaçado a confiança dos povos da Europa no sistema bancário. O lado obscuro destas medidas prende-se, quer com a ausência de explicações claras, quer com o facto de algumas das mais importantes filiais dos principais bancos cipriotas no estrangeiro não terem fechado durante o período de encerramento dos bancos em Chipre.

Esta “Europa feita em cacos” só não se transformará, a título permanente, num monstro dominador, se os Povos dos Países desta União Europeia, pervertida em relação aos seus objectivos iniciais, souberem retomar de modo pleno os respectivos poderes soberanos e, com eles, visarem construir uma verdadeira União de Países Soberanos com um elevado grau de cooperação.

 

Artigo de opinião de José Decq Mota, 31 de Março de 2013

mario_abrantesO poder central(ista) da coligação PSD/CDS continua a fazer das suas, primando a mais recente por um grau de mesquinhez abstruso. Refiro-me como é evidente à fórmula que o governo central encontrou para, chamando “ajuda” ao abrandamento da limitação à contracção de empréstimos pelas autarquias, negá-la de facto em absoluto, por essa via, furtando-se à exigível comparticipação solidária do Estado para minimizar as consequências das últimas calamidades que afetaram em particular S. Miguel e a Terceira.

Para quem acha que pode agir na base de um centralismo sem limites, congratulo-me, ao menos, com a decisão dos tribunais que, contrariando o poder central, deram razão aos Açores, no caso da responsabilização financeira do Serviço Nacional de Saúde pela assistência aos açorianos no Continente, tal como acontece a qualquer outro cidadão português. Neste caso foi possível demonstrar que maioria absoluta ainda não significa poder absoluto…

Não esquecendo que a carga ilegítima e inconstitucional do centralismo actual é susceptível de prejudicar gravemente a ação do governo regional em diversos aspectos e áreas de intervenção, penso no entanto, por outro lado, que essa circunstância não poderá levar à tentação de motivar este último a utilizá-la, justificando-se publicamente com ela, para diminuir essa acção e intervenção ou simplesmente não agir neste ou naquele caso, apesar de possuir poderes para o efeito. Muito menos motivar o poder regional a adotar comportamentos negativos, semelhantes aos que o poder central tem adotado ou tenciona adotar...

Não quero acreditar que tenham sido motivações desse tipo que levaram a que, apesar das justas propostas feitas por outros, diversas acções ou programas não tenham tido cabimento no Plano e Orçamento da Região aprovado pela maioria PS para o ano de 2013 na Assembleia Legislativa da RAA. Com exceção do aumento ridículo do complemento de pensão e da garantia da manutenção deste em casos de pensionistas e reformados que mudaram de escalão no IRS, considero no entanto que no mínimo houve timidez ou falta de visão ao não se terem considerado propostas directamente dirigidas à defesa dos rendimentos dos açorianos, em benefício de outras que, financiando directamente empresas, pouco contribuirão para a sustentação do emprego e muito menos para a sua criação sem ser com carácter precário, já que a dimensão do consumo interno, pela acentuada queda do poder de compra, tem diminuído vertiginosamente e continuará a diminuir.

Sem pretender desmerecer outras justas propostas ignoradas pelo Plano para 2013, merece especial relevo a errada recusa do governo regional (lembrando Passos Coelho) em aceitar, sequer para cima da mesa de negociações, a ideia da revisão do acréscimo regional ao salário mínimo nacional actualmente praticado, e da remuneração complementar dos trabalhadores da administração regional.

E que não se diga que é por falta de verba, porque muitos dos programas da chamada “agenda para o emprego” vão ficar com verbas por consumir, por aquilo que atrás já foi dito, ou seja, por terem certamente poucos aderentes à partida. Além disso, não consigo compreender, apesar dos milhões públicos já ali muito mal enterrados, com que justificação se tencionam despender do orçamento regional mais 2,625 milhões de euros de incentivos para os projetos do Casino de Ponta Delgada e da Sala de Jogos na Terceira…

É necessário e é possível fazer mais do que aquilo que está a ser feito para enfrentar a recessão imposta pelo poder central nos Açores.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 3 de abril de 2013

mario_abrantesOntem alguém me dizia com uma cara de infinita tristeza: “Qualquer pessoa com a quarta classe estava capaz de gerir melhor este país do que aqueles que estão agora a governá-lo…”
E bem vistas as coisas não está mal pensado. Conheço muita gente de parcas posses e com fraco grau de instrução oficial que gerem de forma rigorosa e coerente os bens e a vida familiar a ponto de, apesar de todas as dificuldades anteriores e presentes, ainda conseguirem sobreviver com uma réstia de dignidade, coisa que no presente não acontece com o nosso país.

Num primeiro sinal, foram os anos anteriores de governações à mão larga para muita clientela, de destruição sistemática de um aparelho produtivo criador de riqueza, e as deserções de um 1º Ministro para chefiar a Comissão Europeia e de um Governador do Banco de Portugal para co-chefiar o Banco Central Europeu.

De seguida e mais próximos no tempo, foram os tristemente célebres PEC’s do agora retornado anterior 1º Ministro, os quais confluíram num acordo desastrado subscrito por três partidos (que, por acaso, ainda não são ex-portugueses) com o FMI, a União Europeia (do ex-governante português) e o Banco Central Europeu (do ex-governador português), vulgarmente conhecidos por “troika”, com vista a ser não só rigorosamente cumprido como até superado (imagine-se a arrogância inconsciente).

Desde então e em ritmo cada vez mais acelerado (da falta delas ninguém se pode queixar) que se vêm tomando todos os dias medidas governativas, muitas contradizendo as anteriores, de carácter político, económico e social, num incessante frenesim, as quais mexem com tudo e com todos e conduzem os portugueses, não se sabe bem para onde (alguém saberá certamente…). O que se sabe sim é que, em consequência de um tal atribulado percurso governativo, há um país que se esvai, donde saem manda-chuvas e ladrões por um lado e emigrantes pelo outro. Um país que se vai diluindo e destroçando, com a ameaça real de, a prosseguir o flagelo dessas e doutras medidas, em pouco tempo acabar por desaparecer do mapa…
Porque aquilo que era um impecável e até superável acordo com a troika, única via para salvar Portugal, perante os subsequentes e sucessivos falhanços e o agravamento de todos os parâmetros da anunciada salvação económica, política e social portuguesa causados pela sua aplicação, afinal precisa de uns ajustes, diz o 1º Ministro. Não foi um acordo adequado, diz o Ministro Gaspar. É necessária uma remodelação governativa, diz o parceiro da coligação. É o próprio 1º Ministro que tem de ser substituído, dizem alguns chefões dos partidos da coligação. É uma desilusão diz a troika. É uma espiral recessiva diz o Presidente da República. Precisa de uma moção de censura, mas que não o ponha em causa, diz o PS. E, contudo, as medidas prosseguem e o seu sentido é sempre o mesmo e sempre aumentando as desgraças que toda esta gente afirma pretender evitar ou corrigir…  

É um país que, para sobreviver, precisa de se reencontrar consigo próprio e travar o rumo desconhecido e fatal para onde está a ser conduzido. Ao seu povo deverá ser dado o direito de se pronunciar sobre o caminho a seguir. E isso não se faz nem com remodelações governamentais, nem com a manutenção de acordos que geram desastres incontornáveis. Faz-se sim pondo rapidamente fim a este (des)governo, dando a voz ao povo através de eleições, renegociando os compromissos e retomando o crescimento económico e a soberania nacional, com ou, se necessário, sem euro, no quadro europeu em que estamos inseridos.


Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 31 de março de 2013

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